A generalidade das cronologias e tábuas de efemérides aponta o dia 8 de maio de 1945 como a data da rendição da Alemanha nazi perante os Aliados, pondo termo à II Guerra Mundial na Europa, e países ocidentais como a Alemanha e a França (aos quais se junta agora a Ucrânia) celebram nesse dia o acontecimento, ao contrário da Federação Russa - e, antes, da União Soviética - que comemora no dia 9 o Dia da Vitória. Será um capricho?
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É um facto que a rendição nazi propriamente dita ocorreu na noite do dia 8, em Berlim, com a capital do III Reich completamente controlada pelo Exército Vermelho. A assinatura formal da capitulação incondicional da Alemanha, pelos marechais de campo Wilhelm von Keitel, chefe do Comando Supremo das Forças Armadas alemãs e conselheiro de Adolf Hitler, e Georgy Shukov, comandante das forças soviéticas, ocorreu faltaria um quarto para as 23 horas locais em Berlim e seriam duas horas mais tarde em Moscovo, portanto, já bem dia 9 na capital soviética. Nas suas memórias, o marechal Shukov escreveu: "Em 9 de maio, às 0.50 horas, terminou a sessão na qual foi recebida a rendição incondicional da Alemanha".
Foi também no dia 9 que, em inúmeras cidades do Mundo, milhões de pessoas saíram às ruas a festejar a vitória sobre o nazi-fascismo na Europa. Na realidade, o conflito que se convencionou chamar II Guerra Mundial, iniciada em 1 de setembro de 1939 com a invasão da Polónia, terminaria apenas em 2 de setembro, com a formalização da capitulação incondicional - ocorrida de facto em 14 de agosto - do Japão, esmagado com o lançamento das bombas atómicas sobre Hiroxima, em 6 de agosto, e Nagasaki, três dias depois. Cumpria-se a ameaça da célebre Declaração de Potsdam, de 26 de julho, na qual os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a China exigiam a rendição nipónica, sob pena de "pronta e absoluta destruição".
O papel do Exército Vermelho na derrota do nazi-fascismo
Há um consenso entre os historiadores segundo o qual a II Guerra Mundial ceifou cerca de 55 milhões de vidas na Europa (50 milhões) e na Ásia e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) pagou o mais pesado e mais duro preço pela derrota do nazi-fascismo, com entre 26 milhões e 27 milhões de mortos. Isso ajuda a explicar o orgulho - aliás histórico - dos russos e de outros povos da ex-União Soviética pelos seus combatentes. Mas é preciso acrescentar igualmente o valor extraordinário atribuído ao papel do seu Exército Vermelho, primeiro na resistência à invasão nazi; depois na derrota do III Reich.
Invadida em 22 de junho de 1941, com a célebre Operação Barbarossa, a União Soviética viu parte do seu território ocupada pelas tropas nazis (como parte do Norte de África e a quase totalidade da Europa) até 1943, quando desencadeia uma vigorosa e imparável contraofensiva, depois de romper o tristemente célebre cerco a Estalinegrado, entre julho de 1942 e fevereiro daquele ano, que lhe custou 700 mil mortos, na maioria soldados do Exército Vermelho.
Além de expulsar os alemães do seu território, o Exército Vermelho empurra para trás as forças nazis e vai libertando sucessivamente os países ocupados no leste - Jugoslávia, Roménia, Bulgária, Polónia... - e realizando operações históricas, como a libertação do campo de concentração e extermínio de Auchwitz-Birkenau, na Polónia, até entrar Alemanha adentro e atingir mortalmente o seu coração: a 2 de maio de 1945, soldados soviéticos tomam o Reichstag, em Berlim, e içam no seu cimo a bandeira rubra. A conhecida fotografia do momento, espontânea ou encenada, tornou-se definitivamente o ícone da vitória das forças soviéticas sobre as tropas nazis, consumada com a rendição seis dias mais tarde..
*Artigo corrigido esta terça-feira, pelas 12.10 horas