Netanyahu anuncia próxima etapa do conflito, enquanto tropas ultimam preparativos para invasão. Falta de recursos essenciais agrava capacidade de sobrevivência dos palestinianos.
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Se dúvidas houvesse, Benjamin Netanyahu fez questão de as dizimar. Pouco tempo depois de se esgotar o prazo para os mais de 1,1 milhões de palestinianos abandonarem o Norte da Faixa de Gaza (terminou ontem às 16 horas locais, mas ao final da noite Israel anunciou uma dilatação desse limite), o primeiro-ministro israelita visitou as tropas colocadas junto à fronteira com o território e foi categórico: “A nova fase está a chegar. Estamos prontos”, proferiu, perante os militares. Enquanto isso, Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), confirmava que estavam a ser preparadas operações “por via aérea, marítima e terrestre”. Noutra frente, a artilharia israelita atacou, à hora do fecho desta edição, a Síria, após terem soado alertas aéreos junto aos montes Golãs.
Com os avanços cada vez mais iminentes, vão surgindo sinais dos objetivos que Israel procura alcançar. O presidente do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, deu a entender que uma das intenções será retirar o controlo militar e político da Faixa de Gaza das mãos do Hamas. “Não vai controlar a soberania depois dos combates”, salientou, citado pelo “Times of Israel”. O ex-ministro da Justiça Gideon Sa’ar, que agora faz parte do Governo de emergência nacional, foi mais longe e colocou a possibilidade de uma ocupação parcial. “Quem começa uma guerra com Israel deve perder território”.
Enquanto se ultimam os preparativos para uma invasão, as FDI iniciaram alguns “ataques localizados” na Faixa de Gaza, cita a “Sky News”, tendo em vista o resgate dos cerca de 120 reféns que foram levados pelo Hamas. As forças informaram que encontraram “alguns corpos de israelitas que tinham sido sequestrados”, mas não detalharam um número.
Civis morrem na fuga
A indicação dada pelas FDI para que a população do Norte da Faixa de Gaza se retirasse para Sul clarifica a intenção das autoridades usarem a passagem de Erez para entrarem na estreita faixa de terra. O apelo, que vaticina o que está a ser preparado, fez emergir um êxodo nunca antes visto, levado a cabo por quem ainda tinha esperança de sobreviver.
Segundo o Hamas, cerca de 70 pessoas terão morrido enquanto tentavam fugir para Sul, acusando Israel de continuar os ataques aéreos. O jornal norte-americano “The Washington Post” asseverou uma parte da veracidade das declarações do movimento islâmico, confirmando a autenticidade de um vídeo que circula nas redes sociais, no qual se podem ver vários corpos espalhados na estrada de Salah al-Deen.
Apesar de uma grande parte da população da Zona Norte tentar escapar ao que está por vir, há quem insista em ficar. Seja por falta de meios ou por resiliência. Vários hospitais de Gaza recusaram a ordem de evacuação e continuam a funcionar, uma vez que a deslocação de doentes é, em muitos casos, impossível de ser realizada. De acordo com a “Al Jazeera”, 35 mil civis refugiaram-se no interior e nas imediações do principal hospital de Gaza, na esperança de que o local não seja atingido. “As pessoas acreditam que este é o único local seguro”, explicou Medhat Abbas, diretor-geral do Ministério da Saúde.
ONU apela por água
Entre os que insistem em ficar, há quem opte por não sair de casa. “Prefiro morrer com dignidade”, admitiu Rami Swailem, morador que vai continuar no seu apartamento. Apesar de o Egito, os EUA e Israel terem firmado um acordo para a saída de estrangeiros de Gaza, através da passagem de Rafah, não há nenhum entendimento para a retirada de palestinianos. Enquanto não é encontrada uma solução, a ONU lembrou que é urgente fazer chegar água à população, caso contrário, os civis ficarão encurralados entre a morte pelo uso da força ou por desidratação.