O chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Portas, defendeu, esta sexta-feira, na Comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros uma tomada de posição "firme" da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa sobre a Guiné-Bissau, condenou os militares golpistas e afirmou que Portugal está em alerta para eventual retirada de portugueses.
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"Temos em especial atenção a necessidade de acorrer a situações difíceis para termos uma resposta adequada para a defesa dos cidadãos nacionais", disse Paulo Portas na Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República que passou a ter como único tema a situação da Guiné-Bissau.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, há na Guiné-Bissau "uma cultura de resolução violenta das situações políticas" e afirmou ser necessário evitar o derramamento de sangue. "A lógica da violência tem de ser travada e deve ser promovida a escolha livre pelo povo da Guiné dos seus dirigentes", afirmou Paulo Portas. "Apelamos à integridade física dos dirigentes da Guiné Bissau" disse ainda o ministro, sublinhando que condena o golpe militar.
"Estive reunido com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola. Todos pressentimos que havia um agravamento larvar da situação, que havia demasiadas ameaças e, essa reunião, que acontece amanhã [sábado em Lisboa, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] também envolve o apoio e o compromisso com aquilo que a missão angolana está a fazer em Bissau", prosseguiu.
"Os países da CPLP devem ajudar Angola. Esta missão [militar angolana, Missang] é um fator de segurança e não um fator de instabilidade", afirmou Portas, que frisou que "houve uma tentativa de atirar para o terreno da discórdia" a presença de Angola em Bissau. "A mim parece-me importante que haja uma presença de segurança internacional" no país, defendeu.
Para Paulo Portas é preciso deixar bem claro que a comunidade internacional deve reagir de forma enérgica contra os responsáveis golpistas, até porque a instabilidade que põe em causa a integridade física dos políticos acontece em vésperas do início de uma campanha eleitoral que não pode, em nenhuma circunstância, ser posta em causa.
"O golpe militar acontece no intervalo entre a primeira volta e a segunda volta das eleições, que Portugal ajudou tecnicamente, tal como sempre ajudou. Houve a primeira volta, o primeiro-ministro, que era candidato, teve 49% e na véspera da campanha eleitoral acontece um golpe militar que leva à captura dos responsáveis democráticos", afirmou ainda o ministro dos Negócios Estrangeiros.
"No Plano da CPLP, Portugal vai consultar todos os parceiros da comunidade. Temos a esperança de que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau consiga chegar a Portugal e nós consideramos que a CPLP em concertação natural com a ONU deve condenar o golpe militar, sublinhar a ordem constitucional, abordar o cumprimento do calendário eleitoral para a escolha de um Presidente da República pelo povo e deixar claro que quem viola a legalidade e interfere no processo eleitoral deve ser responsabilizado pela comunidade internacional", disse ainda Paulo Portas.
Na quinta-feira à noite um grupo de militares guineenses atacou a residência do primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, e ocupou vários pontos estratégicos da capital da Guiné-Bissau. A ação foi justificada hoje, em comunicado, por um auto-denominado Comando Militar, cuja composição se desconhece, como visando defender as Forças Armadas de uma alegada agressão de militares angolanos, que teria sido autorizada pelos chefes do Estado interino e do Governo.
A mulher de Carlos Gomes Júnior disse hoje que ele foi levado por militares na noite do ataque e encontra-se em parte incerta, bem como o Presidente interino, Raimundo Pereira.
Os acontecimentos militares na Guiné-Bissau, descritos como um "golpe de estado" pelo Presidente da República português e pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, antecederam o início da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais previstas para dia 29 de abril.