Inverno pouco rigoroso, novos fornecedores e armazenamento de recursos permitem que europeus possam respirar de alívio no início do novo ano.
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Ao contrário do que era expectável, o preço do gás natural na Europa, que disparou no ano passado após a invasão da Rússia à Ucrânia, caiu para níveis inferiores aos registados antes da guerra. A queda abrupta é justificada pelo inverno pouco rigoroso que os países ocidentais estão a viver - impulsionando uma diminuição na procura por aquecimento - bem como pelo sucesso das nações em encontrar alternativas ao gás russo, o que inclui novos fornecedores, esforços de poupança e armazenamento de energia.
De acordo com a plataforma TTF (Title Transfer Facility), que é transacionada nos Países Baixos e representa uma referência para as empresas de energia, o preço do gás natural na Europa para entrega no próximo mês situa-se nos 76 euros o megawatt-hora (MWh), enquanto na véspera da ofensiva russa, a 23 de fevereiro de 2022, o valor rondava os 88 euros.
Esta é uma reviravolta notável, uma vez que, há poucos meses, altura em que Moscovo cortou unilateralmente a maior parte das exportações de energia, pairava o receio de que os europeus iriam passar frio neste inverno. Os temores levaram a que o preço do gás atingisse um pico em agosto, quando o preço por MWh rondou os 340 euros - um valor quase cinco vezes mais alto do que o atual.
A mudança no panorama energético reflete uma combinação de medidas eficazes, tanto no seio da União Europeia como nos Estados-membros, que rapidamente colocaram como prioridade garantir o abastecimento de gás através de outras fontes, bem como promover a conservação.
Após a invasão, a Europa agiu de modo a assegurar embarques de gás natural liquefeito (GNL) a partir dos Estados Unidos, Catar e outros exportadores. Ao mesmo tempo, foi construindo terminais para receber o recurso, eliminando ainda habituais obstáculos.
Uma dessas instalações, situada em Wilhelmshaven, no noroeste da Alemanha, recebeu, esta terça-feira, a primeira entrega de GNL, proveniente dos EUA. Os Países Baixos, por sua vez, já iniciaram a construção de um novo terminal em Eemshaven, no norte do país. As novas infraestruturas constituem uma onda de investimentos em novos complexos de receção de gás pela parte dos Executivos e empresas da Europa.
Reservas em alta
Em paralelo, com a aquisição de novas fontes de abastecimento, a indústria e os consumidores conseguiram reduzir o consumo de gás em cerca de 20%, respondendo ao impulso dos preços altos, assim como aos apelos governamentais.
As recentes alterações na lei da oferta e da procura permitiram ainda que as instalações de armazenamento de gás se encontrem quase cheias. O novo ano começou com a notícia de que, em toda a União Europeia, 84% das infraestruturas estavam, em média, repletas, em comparação com os 52% de há um ano.