Primeira pessoa não-binária a exercer magistratura no México foi encontrada morta
A primeira pessoa não-binária a conseguir alcançar a magistratura no México foi encontrada morta em casa, aos 38 anos. Ativistas LGBT+ apelam às autoridades para investigarem se a morte está relacionada com a identidade de género.
Corpo do artigo
O corpo de Jesús Baena foi encontrado sem vida pelas autoridades mexicanas, esta segunda-feira, na zona de Aguascalientes, junto ao cadáver do companheiro e apresentava sinais de violência, de acordo com diário britânico "The Guardian".
Jesús Ociel Baena era uma figura proeminente do ativismo LGBT+ no México, uma vez que se trata da primeira pessoa a conseguir obter um cartão de cidadão não-binário no país e a conseguir chegar a um cargo jurídico na América Latina.
“As pessoas que se autodenominam não binárias são aquelas que rompem com a visão dicotómica do que se entende por homem e mulher”, afirmou em declarações citadas pelo diário espanhol "El País", afirmando que não se considerava homem e não se sentia mulher. A sua identidade era antes “essa quebra de dicotomia, de usar roupa masculina e de mulher, de não ter a obrigação e a pressão social de ter que se comportar de determinada forma”.
Por tudo isso, usava o pronome "eles" e defendia uma linguagem inclusiva, tendo conseguido que o tribunal o tratasse por magistrade.
A ministra da Segurança mexicana, Rosa Icela Rodriguez, garantiu, em conferência de imprensa, que as autoridades “ainda não sabem se foi um homicídio ou algum tipo de acidente”.
Contudo, o diretor da associação pelos direitos LGBT+ Letra S, Alejandro Brito, em declarações ao britânico "The Guardian", alerta para o facto da visibilidade de Jesús Baena nas redes sociais o ter tornado um alvo e, por isso, defende que a Polícia deve ter isso em consideração.“Era uma pessoa que recebia muitas mensagens de ódio e até ameaças de violência e morte, e isso não pode ser ignorado pela investigação”, vincou.
Nos últimos anos, Baena lutou pelo reconhecimento da comunidade LGBT+ e pela participação da mesma na vida política, num país que é o segundo com mais crimes de ódio na América Latina, com 305 casos de violência entre 2019 e 2022, segundo o Observatório Nacional de Crimes de Ódio contra pessoas LGTBIQ+ citado pelo “El País”.
Nas suas redes sociais, Baena publicava fotos a vestir saias, saltos altos e outras roupas que a sociedade costuma atribuir ao género feminino.
“Durante muito tempo identifiquei-me como mulher, gostava de roupas femininas, gostava das coisas que faziam, ou dos estereotipos de menina. E isso criou terreno fértil para que eu fosse discriminade durante toda a minha infância, tanto na minha família como na escola”, afirmou Jesús Baena no ano passado durante uma entrevista à rádio mexicana “W”.
Em 2020, quando participou numa discussão sobre direitos políticos eleitorais decidiu afirmar publicamente a sua identidade de género. No ano passado, alcançou a eleição para a magistratura. Sobre o facto de ser a primera pessoa com uma identidade não-binária a exercer esse cargo, Baena argumentou que “a visibilidade permite normalizar a presença”, e que é precisamente isso que pretendia, “normalizar a presença de pessoas não-binárias em espaços públicos e privados”.