Condenação do ex-presidente brasileiro aumenta a tensão no eixo Brasília-Washington.
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As relações entre o Brasil e os EUA azedaram ainda mais com a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, decidida na quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o ex-presidente brasileiro culpado de golpe de Estado em 2022, além de outros crimes.
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Da governação norte-americana, aliada de Bolsonaro na política externa, chegou esta sexta-feira a promessa de uma resposta ao que considera ser uma "caça às bruxas". "Continua a perseguição política liderada por Alexandre de Moraes [juiz relator do processo], sancionado por violar os direitos humanos, depois de ele e outros membros do STF terem decidido injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro", defendeu o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, fazendo saber que os EUA "responderão em conformidade".
"Muito insatisfeito"
Antes, em declarações à imprensa, Trump tinha-se mostrado "surpreendido" com o "terrível" desfecho judicial e considerado que o processo que condenou o "bom homem" Jair Bolsonaro é "muito semelhante ao que tentaram fazer" consigo nos Estados Unidos, referindo-se aos problemas legais que o visaram no passado.
Agora "muito insatisfeito", o presidente norte-americano impôs há algumas semanas uma tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos como retaliação pelo processo judicial contra Bolsonaro - uma medida criticada pelo governo de Lula da Silva, que continua a mostrar-se pronto para um braço de ferro com Trump, a quem tem acusado de se intrometer indevidamente na política brasileira.
Lula sem medo
Ainda antes de o Supremo formar maioria para condenar Bolsonaro (quatro de cinco juízes suportaram as acusações do Ministério Público), Lula mostrou-se sem medo de represálias vindas de norte. "Não temo. Se Trump tomar outras atitudes, é um problema dele. Vamos reagir na medida em que as medidas forem tomadas", declarou em entrevista à rádio "Bandeirantes".
O executivo norte-americano sancionou e proibiu a entrada no país do juiz Alexandre de Moraes, que não teve dúvidas em identificar um ataque contra a democracia e cujo malhete caiu em força sobre Jair Bolsonaro e mais sete arguidos.
Os condenados no processo, que vão recorrer da decisão, não serão presos imediatamente. Segundo o "Folha de S. Paulo", embora a maioria de 4-1 restrinja os recursos no Supremo Tribunal, o ex-presidente brasileiro só deverá ser encarcerado quando a defesa não puder mais recorrer, o que o STF estima acontecer até dezembro.
Além do tempo de prisão, que constitui uma decisão histórica na justiça brasileira, os magistrados aplicaram aos réus várias medidas civis e administrativas, como inelegibilidade, perda de cargos e mandatos e pagamento de indemnização por danos morais coletivos.