O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, reagiu neste domingo às duras críticas dos Estados Unidos à condenação do seu antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro, por acusações de golpe de Estado.
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Na sua primeira reação pública à condenação de Bolsonaro, Lula escreveu numa coluna de opinião do "The New York Times" dirigida ao seu homólogo norte-americano Donald Trump, que estava "orgulhoso" da decisão do Supremo Tribunal que salvaguarda as instituições e o Estado de direito democrático".
"Isto não foi uma "caça às bruxas"", como Trump e outras autoridades americanas chamaram ao julgamento, escreveu Lula num ensaio intitulado: "A democracia e a soberania brasileiras não são negociáveis".
O aliado de Trump, Bolsonaro, de 70 anos, foi condenado numa decisão por 4-1 por ter planeado um golpe para derrubar o rival Lula após a derrota do líder de extrema-direita nas eleições de outubro de 2022.
Foi sentenciado a 27 anos de prisão, numa condenação que Trump considerou "muito surpreendente" e que o principal diplomata dos EUA, Marco Rubio, alertou que levará à ação de Washington. Os advogados de Bolsonaro disseram que vão recorrer.
Lula também criticou Trump por aumentar as tarifas sobre o país, descrevendo a imposição de direitos de 50% sobre vários produtos brasileiros como "não apenas mal orientada, mas ilógica", dado o excedente comercial dos Estados Unidos com o Brasil.
"Recorrer a uma ação unilateral contra Estados individuais é prescrever o remédio errado", disse o veterano esquerdista, apelando a negociações multilaterais.
A falta de um raciocínio económico lógico por trás das tarifas, acrescentou Lula, "deixa claro que a motivação da Casa Branca é política".
Lula também criticou a administração de Trump por acusar o Brasil de "visar e censurar" empresas americanas de tecnologia como a X, argumentando que essas empresas estavam a ser reguladas, não censuradas.
E descreveu como "sem fundamento" a acusação de Washington de práticas desleais nos serviços de pagamento eletrónico e no seu sistema de pagamento digital conhecido como PIX.
Lula, que aos 79 anos é apenas sete meses mais velho do que Trump, disse que escreveu o seu ensaio "para estabelecer um diálogo aberto e franco" com o seu homólogo americano, e sublinhou que Brasília continua "aberta" à negociação sobre qualquer assunto.
"Quando os Estados Unidos viram as costas a uma relação de mais de 200 anos, como a que mantém com o Brasil, todos perdem", escreveu Lula. "Não há diferenças ideológicas que devam impedir dois governos de trabalhar juntos em áreas onde têm objetivos comuns."
Desde que retornou à Casa Branca em janeiro, Trump criticou repetidamente o sistema judicial brasileiro sobre o caso Bolsonaro, que provocou uma crise diplomática entre as duas maiores economias das Américas. Mas Lula insistiu que as ações judiciais foram justas e abrangentes.
"Seguiu-se a meses de investigações que revelaram planos para me assassinar, ao vice-presidente e a um juiz do Supremo Tribunal", disse ele.
O plano não foi levado a cabo por falta de apoio da liderança militar, de acordo com a decisão do Supremo Tribunal.
O processo foi "muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram de todo", disse Trump na quinta-feira, referindo-se à sua própria batalha legal depois de os seus apoiantes terem invadido o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.