Prisão perpétua para três homens que mataram Ahmaud, perseguido por fazer "jogging"
Foram condenados a penas de prisão perpétua os três homens acusados de matar Ahmaud Arbery, um afro-americano abatido a tiro em 2020, enquanto corria num bairro em Brunswick, no Estado norte-americano da Geórgia.
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O júri que julgou o caso do homicídio de Ahmaud Arbery - um dos vários que, nos últimos anos, reacenderam o debate sobre violência racial nos EUA - já tinha considerado, em novembro passado, Travis e Gregory McMichael (pai e filho) e William Bryan (vizinho destes) culpados do assassinato do jovem de 25 anos, em fevereiro de 2020. Numa audiência na sexta-feira, Travis e Gregory foram condenados pelo juiz Timothy Walmsley a passarem a vida na prisão, sem possibilidade de liberdade condicional, ao contrário de William, que pode tentar a sua sorte cumpridos 30 anos da pena, a sentença mínima permitida por homicídio segundo a lei do estado da Georgia.
A maior severidade das penas aplicadas a pai e filho, de 66 e 35 anos, quando em comparação com a que foi aplicada a Bryan, de 52, deveu-se, justificou o magistrado, ao facto de tanto um como outro não terem mostrado remorsos nem empatia pela vítima, o que ficou claro em parte pelas palavras e ações "insensíveis" captadas num vídeo gravado no momento do crime.
Fazia jogging quando foi atacado
Os três inidívuos foram considerados culpados de homicídio, agressão agravada, prisão ilegal (que acontece quando alguém restringe intencionalmente a liberdade de outra pessoa sem autoridade legal para isso), e intenção criminosa de cometer um crime.
Ahmaud Arbery, morador de Brunswick, Geórgia, corria num bairro predominantemente branco da zona, no dia 23 de fevereiro de 2020, quando os McMichael, que seguiam numa carrinha, iniciaram uma perseguição, acabando, cinco minutos depois, por encurralar o jovem. Perante a ameaça de Travis, que estava armado com uma caçadeira, o jovem ainda tentou contornar a carrinha sem parar de correr, mas, após um breve confronto físico, acabou morto com dois tiros no peito.
Bryan entra na equação quando, ao ver a viatura dos vizinhos passar pela sua garagem, se junta à perseguição e começa a gravar o momento com o telemóvel, captando Travis McMichael a disparar à queima-roupa contra Arbery, que nada tinha consigo além das roupas e das sapatilhas de corrida. Embora tenha dito, num primeiro momento, que estava apenas preocupado com a situação, acabaria por ser acusado de ajudar os McMichael a perseguirem e a cercarem Arbery.
Nas declarações iniciais à Polícia, pai e filho disseram que suspeitavam do envolvimento da vítima numa série de assaltos ocorridos na zona, depois de, supostamente, o terem visto a sair de uma moradia em construção. E Travis defendeu que agiu em legítima defesa, com o argumento de que Arbery havia tentado desarmá-lo. Mas os procuradores acabaram por desmontar essa tese, considerando que a perseguição e o consequente homicídio foram motivados por ódio racial.
Para este desfecho judicial, foi essencial a divulgação do vídeo do momento, que levou, só em maio, três meses depois do crime, à detenção dos três homens, que, no próximo mês, enfrentam ainda um julgamento federal por crimes de ódio, onde serão julgados por terem perseguido Arbery por este ser negro.
Os advogados dos três arguidos já disseram que vão recorrer das condenações.