Com os dois pés quase fora da União Europeia e com o estandarte de Estado "soberano" empunhado, o Reino Unido tem mais de 2,4 milhões de crianças a viver em insegurança alimentar.
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O país está na lista dos 30 mais ricos do Mundo, mas fica aquém nas respostas aos mais pobres. Tanto que, surpreendentemente, em terras de Sua Majestade, foi necessária a intervenção da Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância para alimentar os mais pequenos de famílias afetadas pela pandemia de covid-19.
O anúncio, feito pela própria Unicef, valeu a Boris Johnson, chefe de Governo, e aos seus ministros duras críticas pela incapacidade de responder às necessidades, agravadas pela crise pandémica, da população mais vulnerável. Até outubro, 900 mil crianças foram registadas nos programas escolares de comida gratuita.
A contribuição da Unicef para o fundo de assistência será de cerca de 815 mil euros e vai chegar a 30 projetos comunitários que apoiam 15 mil crianças e jovens. Este será um ato único e durará até final de abril.
"Uma desgraça. Deviam ter vergonha", escreveu Angela Rayner, membro do Parlamento e do Partido Trabalhista, na sua conta de Twitter, apontando a Johnson e Rishi Sunak, ministro das Finanças. "Os ministros que deixam crianças passar fome durante o Natal deviam ter vergonha de si próprios", insistiu.
Já Keir Starmer, líder dos trabalhistas, sublinhou a situação "escandalosa", sendo que o Reino Unido é o "sexto país mais rico do Mundo". "É vergonhoso que a Unicef tenha de assegurar que as nossas crianças são alimentadas".
"Brincar Às políticas"
Mas também a Unicef recebeu críticas. Estas vindas do conservador e líder da câmara dos comuns, Jacob Rees-Mogg, que acusou a agência de estar "a brincar às políticas" por decidir entregar comida às crianças do Reino Unido. "É um verdadeiro escândalo, um golpe político da mais alta ordem. A Unicef deveria ter vergonha", insistiu, enquanto discursava no Parlamento.
Perante as acusações, Anna Kettley, diretora de programas da Unicef no Reino Unido, disse apenas estar a responder "a uma crise sem precedentes" e a "prestar apoio a crianças e famílias vulneráveis".
A agência da ONU irá atuar, por exemplo, em parceria com o programa "Merenda Escolar Importa", que irá receber mais de 27 mil euros para conseguir dar o pequeno-almoço a mais de 13 mil crianças em 25 escolas do sul de Londres, capital britânica, durante as duas semanas de férias do Natal e as de fevereiro.
Esta será a primeira vez, em 70 anos de presença no Reino Unido, que a Unicef intervirá no país. Para Anna Kettley, a covid-19 está a ser a crise mais grave para as crianças desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Outras missões
Moçambique - A Unicef lançou, no início do mês, um programa de quatro anos para aumentar os serviços de nutrição, água, saneamento e higiene no Centro de Moçambique. As intervenções no terreno vão abranger os seis distritos mais afetados pelo ciclone Idai na província de Sofala em 2019: Dondo, Nhamatanda, Muanza, Búzi, Gorongosa e Chibabava.
América Central - A agência está a tentar responder às necessidades mais urgentes de cerca de 646 mil pessoas afetadas pelos furacões Eta e Iota, que assolaram a América Central, especialmente, as Honduras, a Nicarágua, Guatemala e o Belize. A Unicef estima que o Eta terá afetado 4,6 milhões de pessoas em toda a região, incluindo 1,8 milhões de crianças, antes da chegada do Iota.
Escolas - A Unicef está a trabalhar num projeto para ligar todas as escolas do Mundo à Internet em dois anos, para ajudar as crianças a conseguirem acompanhar o Mundo moderno e para lhes dar iguais oportunidades de acesso ao ensino digital de qualidade.