Quatro décadas depois, investigação ao "maior mistério criminal" da Bélgica vai ser encerrada
Conhecidos como os "Mad Killers of Brabant", um gangue iniciou uma onda de assassinatos entre 1982 e 1985, matando 28 pessoas, incluindo crianças, numa série de assaltos a supermercados.
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O mistério que tomou conta da Bélgica durante décadas provavelmente nunca terá solução, após o encerramento do processo na sexta-feira.
Teorias bizarras foram apresentadas para explicar quem estaria por trás daquilo que a meios de comunicação locais chamaram de “o maior mistério criminal” da Bélgica no século passado. Uma tese seriamente considerada dizia que se tratava de uma tentativa de desestabilizar o Estado belga por atuais ou antigos responsáveis pela aplicação da lei próximos da extrema direita.
No entanto, o caso nunca foi resolvido e nunca ninguém foi condenado, apesar das múltiplas investigações sobrepostas, das inúmeras investigações de impressões digitais e de ADN, das dezenas de exumações e até das prisões que levaram a acusações.
"Todas as ações investigativas possíveis foram realizadas", disse Ann Fransen, chefe do gabinete do procurador federal belga, que assumiu as diversas vertentes da investigação há seis anos, em declarações aos jornalistas em Bruxelas. “Infelizmente não conseguimos trazer a verdade à tona”.
Ao todo, a polícia verificou “1815 informações, antigas e novas”, analisou 2748 conjuntos de impressões digitais e comparou 593 amostras de ADN com as do arquivo do caso. Exumaram “mais de 40 corpos para fins de investigação”, acrescentou Fransen.
Na sexta-feira, os procuradores reuniram-se com as famílias das vítimas, que ainda vivem sem respostas há muitos anos, para informá-las que o caso ia ser definitivamente encerrado. Um advogado, Kristiaan Vandenbussche, culpou o encobrimento pelo impasse, acusando agentes desonestos de "sabotarem" a investigação para proteger os culpados.
Muitos suspeitos, mas nenhuma resposta
Depois de as pistas iniciais se esgotarem, os procuradores retomaram o caso em 2018, após uma entrevista feita por um parente de um suspeito. No ano seguinte, foram apresentadas acusações contra um agente da polícia reformado suspeito de atrapalhar a investigação em 1986, ao atirar armas e munições para um canal. No entanto, o agente nunca foi condenado.
O mistério dos assassinatos é ainda maior tendo em conta as quantias relativamente pequenas roubadas, um saque total de sete milhões de francos belgas (175 mil euros), o que sugere que o dinheiro não foi o motivo da morte de 28 pessoas.
Fransen admitiu que encerrar o caso seria um “golpe” para as famílias das vítimas, mas disse que considerava necessário ser “transparente” com elas. O caso será oficialmente encerrado após uma audiência processual a ser realizada em breve em Bruxela, na qual as famílias terão mais uma hipótese de solicitar novos caminhos para investigação.
De acordo com a lei belga, não existe prazo de prescrição para os crimes envolvidos.