Na aritmética sombria da guerra, somam-se esta sexta-feira 121 dias, quatro meses de uma invasão que veio reconfigurar o frágil equilíbrio em que assenta a geopolítica mundial e alavancar a mais trágica crise de refugiados na Europa desde a Segunda Grande Guerra. Quando mais de metade da província de Donetsk, na região do Donbass, está já sob domínio das forças russas, Moscovo dá sinais de querer dilatar a agressão até ao estertor final.
Corpo do artigo
As batalhas que há semanas fustigam Severodonetsk e Lysychansk, no leste do país - bastiões da resistência ucraniana no Donbass -, estão "a entrar numa espécie de clímax terrível", atirou ontem um assessor do presidente Volodymyr Zelensky. Oleksiy Arestovych descreveu esta fase do confronto como "aterrorizante do ponto de vista militar".
Já Oleksiy Gromov, vice-chefe do principal departamento operacional do Estado-Maior, garante que as forças ucranianas em Severodonetsk não ficaram isoladas e ainda conseguem receber armas e retirar os feridos, apesar dos danos nas rotas de abastecimento.
O governador regional de Lugansk, Serhiy Haidai, assinalou que as tropas ucranianas deverão ter que retirar da cidade de Lysychansk, na linha da frente, para evitar o cerco, depois de as forças russas terem capturado dois assentamentos, Rai-Oleksandrivka e Loskutivka, a Sul.
Pavlo Kyrylenko, chefe das Forças Armadas de Donetsk, alega que já só 45% da região está sob o controlo das forças ucranianas, deixando grande parte do domínio de Donetsk nas mãos das forças russas.
Para a resistência ucraniana seguem-se "sérias batalhas", referiu o militar, acrescentando os vários bombardeamentos ao longo da rodovia Bakhmut-Lysychansk, com o propósito de cortar o abastecimento nas cidades de Severodonetsk e Lysychansk.
Mísseis sobre Mykolaiv
Mais a sul, sobre a cidade portuária de Mykolaiv, caíram ontem três mísseis de cruzeiro, tendo as defesas antiaéreas travado dois outros mísseis que tinham por alvo a cidade vizinha de Odessa, de acordo com um comunicado das Forças Armadas ucranianas.
Estatuto de candidato
Os líderes dos 27 estados-membros da União Europeia (UE) reuniram ontem para aprovar a atribuição à Ucrânia e República da Moldávia do estatuto de país candidato à adesão ao bloco europeu, no primeiro de dois dias de um Conselho Europeu dominado pelo processo de alargamento.
Depois do parecer favorável da Comissão Europeia (CE), também o Parlamento Europeu recomendou ao Conselho que atribuísse, "sem demora", o estatuto de país candidato às duas ex-repúblicas soviéticas (para a Geórgia, segue-se um compasso de espera, tendo em conta as condições fixadas pela CE).
A resolução, aprovada por 529 votos a favor, 45 contra e 14 abstenções, apelava ontem aos líderes da UE que dessem "um sinal claro à Ucrânia, Moldávia e Geórgia, confirmando a sua perspetiva europeia".
O arranque do Conselho Europeu, que decorre até esta sexta-feira em Bruxelas, foi antecedido de uma reunião de líderes da UE e dos países dos Balcãs Ocidentais, que há anos se encontram em fila de espera para aderir ao bloco comunitário, como a Albânia, Montenegro ou Kosovo.