Quem era Audrey Hale? A "artista talentosa" que "entrou a matar" numa escola cristã
Com apenas 28 anos, Audrey Hale deixou o seu nome gravado na história norte-americana ao ser a quinta mulher a perpetuar um massacre no país. Era ilustradora e designer gráfica, ex-aluna da escola cristã onde matou seis pessoas, na segunda-feira de manhã, e transgénero também. O comportamento extremista surpreendeu todos aqueles que a conheciam e até a própria mãe, uma ativa defensora de leis de controlo de armas nos EUA.
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Foi de colete balístico, chapéu vermelho, espingardas, pistola em punho e com o registo criminal imaculado que Audrey Hale entrou na "The Covenant School", uma escola cristã privada, fundada em 2001, com perto de 200 alunos. Disparou indiscriminadamente e tirou a vida a seis pessoas, três delas crianças, com oito e nove anos, e as restantes, funcionários do estabelecimento, entre os 60 e 61 anos.
A polícia recebeu o alerta para o massacre às 10.13 horas e 14 minutos depois neutralizou a atacante, que morreu no confronto com as autoridades.
Surveillance video released by Nashville PD shows Audrey Hale driving to Covenant Church/School and then shooting out the windows and breaking into the school. pic.twitter.com/2N9fkOdC2g
- Brian Entin (@BrianEntin) March 28, 2023
Vingança pode estar na origem do ataque
Audrey Elizabeth Hale nasceu mulher a 24 de março de 1995, em Nashville, Tennessee, EUA.
Sandy Durham, vizinha da família, mostrou-se surpreendida com o ataque perpetuado pela jovem que conhecia desde bebé: "Ela era muito querida. Não sei o que aconteceu, mas é muito assustador".
"Não há nada que me levasse a crer que ela fosse capaz de tal coisa ou que ela, ou qualquer pessoa daquela família, teria acesso, muito menos alguma vez usado, uma arma. Eles não pareciam ser a família que está à volta de armas", referiu um outro vizinho à "ABC News".
Descrita por quem a conhecia como uma pessoa "muito simpática" e "religiosa", também o reitor da Universidade de Arte e Design de Nashville, onde Audrey se formou em 2022, se pronunciou sobre a ex-aluna, lembrando a "artista talentosa e boa aluna".
No website onde apresentava o seu trabalho, Audrey descrevia-se como designer gráfica e ilustradora. Além da arte, dizia "gostar de videojogos, de ver filmes, e praticar desporto". "Há uma parte infantil em mim que adora ir correr para o parque. Os animais são a minha segunda paixão, por isso também gosto de passar tempo com os meus dois gatos", pode ler-se na descrição feita online.
Mas a aparente tranquilidade e normalidade que vivia parecem ter sido assombradas pelas dúvidas e inquietações de alguém que não se identifica com o género atribuído à nascença. Nos últimos meses de vida, Audrey assumiu-se como uma pessoa trans, ou seja, não se identificava com o sexo feminino, mas sim com o masculino. Começou a usar os pronomes masculinos no Instagram e LinkedIn (entretanto apagados), iniciou a transição social, no entanto, as autoridades identificaram a autora do massacre como uma mulher.
Quando questionado se a crise de identidade de género poderia estar na origem do ataque, o chefe da polícia de Nashville, John Drake, afirmou haver teorias nesse sentido. "Há algumas teorias a esse respeito, mas estamos a investigar todas as pistas".
"The Covenant School" está afiliada à Igreja Evangélica Protestante na América. Em 2020, a Igreja Protestante na América condenou a homossexualidade e considerou as pessoas trans "pecadores", de acordo com o "New York Times". As autoridades acreditam que Audrey ficou ressentida pelo tempo que passou naquele estabelecimento e possa ter querido "vingar-se". Não se sabe ao certo ainda quando frequentou a escola, nem por quanto tempo.
Plano detalhado
As autoridades acreditam que Audrey terá premeditado o tiroteio, por causa dos mapas da escola, onde estavam detalhadas as entradas do edifício e a localização das câmaras de segurança, encontrados pelas autoridades na casa onde residia com os pais. A polícia encontrou ainda um manifesto onde estava descrito que "ia haver um tiroteio em massa em vários locais, e a escola era um deles", disse John Drake, à televisão norte-americana.
Numa breve entrevista telefónica à "ABC News", a mãe da atiradora, Norma Hale, pediu privacidade e falou num momento muito difícil para a família. "É muito, muito difícil este momento. Perdi a minha filha", sublinhou.
Norma Hale é uma ativa defensora do controlo de armas nos EUA, com várias publicações nas redes sociais a pedir regulamentação contra o acesso fácil e descontrolado às armas de fogo.
Violência armada não pára de aumentar nos EUA
Os tiroteios escolares são alarmantemente comuns nos Estados Unidos, onde a proliferação de armas de fogo tem disparado nos últimos anos. O tiroteio de segunda-feira, no Tennessee, é o mais recente de uma lista que não pára de crescer. Desde o início do ano, já houve 129 tiroteios em massa no país norte-americano, de acordo com dados da organização sem fins lucrativos, "Gun Violence Archive".
Os apelos de Biden para que o Congresso restabeleça a proibição nacional de espingardas no país, que existiu entre 1994 a 2004, deparam-se com a oposição dos republicanos, que são defensores ferrenhos do direito constitucional ao porte de armas e têm tido uma estreita maioria na Câmara dos Representantes desde janeiro. "Temos de fazer mais para acabar com a violência armada. Está a destroçar as nossas comunidades, está a destroçar a própria alma desta nação", disse Biden à televisão norte-americana.
Barack Obama disse hoje, numa publicação no Twitter, que as armas são a maior causa de morte das crianças nos EUA.
We are failing our children. Guns are now the leading cause of death for children in the U.S.
- Barack Obama (@BarackObama) March 27, 2023
Michelle and I mourn with the students and families of the Covenant School today. pic.twitter.com/8X9qKKzB9d