Reconhecimento russo da independência de regiões separatistas é "rutura unilateral"
O chanceler alemão, Olaf Scholz, sustentou, esta segunda-feira, que o reconhecimento da independência das regiões separatistas da Ucrânia pela Rússia constituirá "uma rutura unilateral" dos acordos de Minsk de 2015.
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Scholz emitiu esta declaração após uma conversa telefónica com o Presidente russo, Vladimir Putin, antes de este anunciar em discurso a decisão de reconhecer as duas "repúblicas" separatistas na região do Donbass ucraniano. Perante a gravidade da situação, o dirigente alemão manteve igualmente conversas de emergência com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e "os parceiros mais próximos" da Alemanha, precisou o porta-voz do Governo, Steffen Hebestreit.
Numa conversa telefónica hoje à tarde com o Presidente russo, Olaf Scholz "condenou o plano da Rússia visando reconhecer" as repúblicas separatistas pró-russas de Donetsk e Lugansk "como Estados independentes", segundo um curto comunicado de Hebestreit. "Uma tal iniciativa estará em flagrante contradição com os acordos de Minsk sobre a resolução pacífica do conflito no leste da Ucrânia", segundo a mesma fonte.
O chanceler, que se deslocou na passada terça-feira a Moscovo, apelou novamente "para uma imediata inversão da escalada do conflito" e para a retirada das forças russas concentradas na fronteira com a Ucrânia, sublinhando "que é necessário agora respeitar o cessar-fogo e dar sinais de contenção, em particular no leste da Ucrânia". "A Rússia tem uma responsabilidade particular neste aspeto", insistiu o porta-voz.
Vladimir Putin decidiu que a Rússia vai reconhecer a independência das duas regiões separatistas pró-russas do leste da Ucrânia, correndo o risco de atear a pólvora, quando o Ocidente receia uma invasão da Ucrânia pelas tropas russas.
O reconhecimento da independência dessas regiões separatistas da Ucrânia como Estados representará o fim do processo de paz, e a Rússia tomará oficialmente sob a sua asa as regiões em causa que, na prática, já apoia militar e financeiramente.
Os acordos de Minsk, negociados em 2015 sob mediação franco-alemã, preveem a devolução dos territórios de Donetsk e Lugansk ao controlo de Kiev, por meio de eleições e de uma autonomia.
Mas a Ucrânia exige a retirada prévia dos separatistas armados controlados pela Rússia. Segundo Moscovo, Kiev está a levar a cabo manobras de diversão para sabotar o processo de paz.
O Presidente ucraniano convocou hoje o Conselho de Segurança Nacional e Defesa, após o anúncio do seu homólogo russo de que irá reconhecer a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.
Na sua conta da rede social Twitter, Volodymyr Zelensky explica que tomou essa decisão "perante as declarações emitidas durante a reunião do conselho de segurança russo" e após conversas telefónicas com os líderes de França, Emmanuel Macron, e da Alemanha, Olaf Scholz.
Antes disso, Zelensky ordenara ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, que pedisse uma reunião imediata do Conselho de Segurança da ONU para abordar medidas urgentes destinadas a obter uma inversão da escalada do conflito e a garantir a segurança do seu país.
Kuleba invocou o artigo 6 do Memorando de Budapeste (1994), que concedeu à Ucrânia garantias de segurança em troca da renúncia ao arsenal nuclear herdado da antiga União Soviética.
Durante a recente conferência de segurança de Munique, Zelensky instou o Ocidente a garantir a segurança da Ucrânia até que o país ingresse na NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte), algo a que o Kremlin se opõe terminantemente.
O chefe da diplomacia ucraniana também negou as informações procedentes da Rússia de que Kiev tinha atacado o território das repúblicas de Donetsk e Lugansk, palco de uma intensificação das hostilidades desde a semana passada.
De facto, Kiev informou que dois soldados ucranianos e um civil morreram hoje nos ataques perpetrados pelas milícias pró-russas no Donbass.
Kiev considera que Moscovo e os separatistas pró-russos orquestraram uma campanha de desinformação sobre uma ofensiva ucraniana iminente, que levou os rebeldes a anunciar a mobilização geral dos homens maiores de idade e a retirada para a Rússia da população civil.
Em seguida, os dirigentes pró-russos pediram o reconhecimento da sua independência ao líder do Kremlin, Vladimir Putin, que hoje presidiu a uma reunião do conselho de segurança da Rússia para abordar esse assunto.
Putin, que defendeu em 2008 o reconhecimento da independência das regiões separatistas georgianas da Abkházia e da Ossétia do Sul, assegurou que anunciaria hoje a sua decisão.
A Rússia concedeu nos últimos anos a cidadania a cerca de 700.000 residentes nas zonas pró-russas de Donbass, que participaram inclusive nas eleições legislativas de setembro passado.