Um ataque israelita que matou um jornalista da Reuters e feriu outros dois da agência France-Presse a 13 de outubro de 2023, no sul do Líbano, configura um caso de "crime de guerra", afirmou esta sexta-feira um relator da ONU.
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Tratou-se de "um ataque premeditado, dirigido a dois tempos por parte das forças israelitas, uma clara violação (...) do direito internacional humanitário, um crime de guerra", declarou o relator especial sobre execuções extrajudiciais, Morris Tidball-Binz, em conferência de imprensa em Beirute.
Anteriormente, Israel tinha negado que visou jornalistas no ataque em questão.
O ataque matou o operador de câmara da Reuters Issam Abdallah e feriu outros seis repórteres, entre os quais dois da mesma agência britânica, dois da estação televisiva Al-Jazeera e dois da France-Presse (AFP), cuja fotógrafa Christina Assi acabou com a perna direita amputada.
Investigações independentes, incluindo uma conduzida pela AFP, concluíram que foi utilizado um projétil de tanque de 120 mm de origem israelita.
Em 25 de outubro de 2024, três outros jornalistas foram mortos enquanto dormiam num ataque israelita no sul do Líbano, segundo as autoridades de Beirute.
"Dormiam numa residência de jornalistas claramente identificada (...) o que não poderia ter passado despercebido às Forças de Defesa de Israel, que bombardearam o local", descreveu o relator especial.
O Exército israelita indicou que o ataque teve como alvo combatentes do grupo xiita libanês Hezbollah e que estava "em análise".
"Continua até hoje"
Tidball-Binz manifestou "profunda preocupação com a escala, o número e a gravidade dos ataques israelitas (...), incluindo as violações do direito internacional" no conflito que se prolongou por mais de um ano no Líbano.
No entanto, "isto continua até hoje", acrescentou, referindo-se à persistência de ataques israelitas contra alvos alegadamente do Hezbollah, após o cessar-fogo assinado em novembro do ano passado.
As Nações Unidas confirmaram na semana passada a morte de 103 civis no Líbano desde a trégua.
A par do Hamas na Palestina e dos Huthis do Iémen, o Hezbollah constitui o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão, e que se envolveu em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão do ano passado, que decapitou a direção do movimento xiita, incluindo o seu líder histórico, Hassan Nasrallah, e vários outros altos membros da sua hierarquia política e militar.
Desde o cessar-fogo, o Estado libanês tem procurado concentrar todo o armamento do país nas mãos das forças de segurança oficiais e deslocou efetivos para a zona da fronteira com Israel, tradicionalmente um reduto do Hezbollah, e onde as tropas israelitas ainda mantêm posições militares.