Relatório identifica pelo menos 21 "campos de filtração" com valas comuns em Donetsk
Uma investigação liderada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a par com a Universidade de Yale, permitiu identificar, pelo menos, 21 locais na região de Donetsk usados pelas forças russas ou separatistas para "deter, interrogar e deportar civis e prisioneiros de guerra" - adotando condutas que violam o direito internacional humanitário. Há registos que indiciam a existência de possíveis valas comuns em algumas áreas.
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Estes locais inserem-se num "sistema de filtração" de cidadãos detidos e prisioneiros, revela o jornal norte-americano "The New York Times". Para chegar a esta conclusão, os investigadores do Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Saúde Pública de Yale examinaram imagens satélite comerciais e informação de acesso livre. Os civis e os prisioneiros estariam sujeitos a ficarem presos por longos períodos de tempo, e a serem deportados para a Rússia ou mesmo assassinados.
A investigação, divulgada num relatório, partiu de uma colaboração entre Yale e o programa Observatório de Conflitos - implementado em maio pelo Departamento de Estado para monitorizar crimes de guerra e outras atrocidades cometidas pelo país invasor. Esta sexta-feira, a Rússia negou a acusação. "Esta é outra falsificação destinada a desacreditar a operação militar especial russa", contrapôs a embaixada russa nos Estados Unidos.
"Terra remexida"
O relatório identificou quatro tipos de "campos de filtração": registo, detenção provisória, interrogatório secundário e detenção. Os investigadores encontraram também indícios de "terra remexida" em duas ocasiões recentes no estabelecimento prisional de Volnovakha, perto da vila de Olenivka, que aparentam estar relacionados com valas comuns. Esta descoberta antecede a explosão de 29 de julho no complexo prisional, que matou 53 prisioneiros de guerra ucranianos.
Uma das zonas observadas já tinha sido captada em imagens de 11 de abril, na mesma altura em que foram reportadas "alegadas escavações" por turnos pelos prisioneiros. Um segundo local apareceu em imagens de 27 de julho, dois dias antes da explosão.
Uma análise do "New York Times", no início de agosto, concluiu, através de imagens satélite das empresas Maxar Technologies e Planet Labs, que algures entre 18 e 21 de julho cerca de 15 a 20 zonas no lado sul do complexo tinham sofrido "alterações notáveis". Inicialmente, tinham cerca de 1,8 a 2,1 metros de largura e entre 3 a 4,9 metros de comprimento; posteriormente, aparentavam ter sido alargadas para se unirem. Não era claro se seriam sepulturas.
O campo de Volnovakha estaria a ser usado como um centro de detenção a longo prazo para civis retidos através de uma "detenção administrativa" e para emprisionar soldados ucranianos - particularmente aqueles que se renderam depois do cerco da fábrica siderúrgica Azovstal, em Mariupol. As atividades de "filtração" terão começado no final de março. Os investigadores referem relatos de tortura, agressões, desidratação e desnutrição, falta de condições higiénicas e celas sobrelotadas.
"Pedimos, novamente, à Rússia que pare imediatamente as operações de filtração e deportações forçadas, e que garanta acesso de observadores externos independentes às instalações identificadas e às zonas de relocalização das pessoas deportadas, dentro de áreas controladas pelas forças russas na Ucrânia e até dentro da própria Rússia", apelou o Departamento de Estado norte-americano.
Em junho, o Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos divulgou um documento com 18 possíveis localizações na região oriental da Ucrânia ocupada pela Rússia e na Rússia ocidental onde civis e prisioneiros estariam a ser retidos e processados.
"Este foco na responsabilização define a base para futuros processos legais civis e criminais, quer seja na Ucrânia, através de mecanismos internacionais, ou em países terceiros que estabeleceram jurisdição", disse o Departamento de Estado, que irá doar nove milhões de dólares ao Observatório de Conflitos. "O Presidente Putin e o seu Governo não vão poder continuar a praticar estes abusos persistentes com impunidade", acrescentou, reforçando que os Estados Unidos e parceiros "não ficarão em silêncio".
Na quinta-feira, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recorreu à rede social Twitter para partilhar que tinha tido "uma ótima conversa" com o homólogo norte-americano, Joe Biden, sobre "os próximos passos da Ucrânia" e, precisamente, a responsabilização de crimes de guerra cometidos pela Rússia.
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