Partido Republicano perto de controlar Câmara dos Representantes, mas Senado deverá ficar nas mãos dos "azuis".
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A contagem dos votos está longe de chegar ao fim, mas os resultados conhecidos até ao final da tarde (hora de Portugal continental) indicavam uma vitória republicana na Câmara dos Representantes, com a conquista de, pelo menos, 204 assentos. Ainda assim, o partido de Joe Biden conseguiu evitar a "onda vermelha" antecipada por Donald Trump. No Senado, há uma forte possibilidade de os democratas manterem o controlo já que, mesmo que cada partido conquiste 50 lugares, os "azuis" têm uma maioria graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.
"A vitória republicana será bem mais magra do que aquilo que as sondagens previam", observa Diana Soller, especialista do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI). No entanto, a investigadora antecipa que uma maioria vermelha na Câmara dos Representantes poderá constituir "uma pedra no sapato" para o presidente dos EUA. "Existe uma maior probabilidade de, nos próximos dois anos, Biden ter legislação bloqueada. Por outro lado, tendo em conta que a margem parece ser curta, poderá haver forma do Executivo negociar", perspetiva.
Relativamente ao futuro do Senado, no qual a corrida eleitoral se mostra renhida, Diana Solller frisa que "ainda não há expectativa nenhuma, pois continua tudo em aberto devido aos três estados que ainda estão por apurar".
No Nevada, numa altura em que 77% dos votos estavam contados, o republicano Adam Laxalt seguia na frente com uma vantagem de 2,7 pontos percentuais sobre a democrata Catherine Cortez-Masto. Já no Arizona, onde a contabilização dos votos deverá demorar vários dias devido à ocorrência de incidentes durante o escrutínio, os democratas estavam, na noite de ontem, na frente, com Mark Kelly a cinco pontos percentuais do republicano Blake Masters.
O caso da Georgia é mais complexo. Ainda que o estado já tenha quase todos os votos contabilizados, nem o candidato democrata Raphael Warnock, nem o rival Republicano Herschel Walker conseguiram obter 50% dos votos, o que obriga à realização de uma segunda volta eleitoral, que acontece no dia 6 de dezembro. Para manter o controlo do Senado, os democratas terão de ganhar pelo menos duas destas três corridas.
Na eleição para determinar os novos governadores, o Partido Republicano conseguiu, para já, assegurar 16 estados, entre eles a Carolina do Sul e Ohio. Os democratas, por sua vez, também têm 16, sendo que conseguiram uma reviravolta na Pensilvânia, onde John Fetterman venceu Mehmet Oz.
Presidenciais na mira
Ainda que os republicanos não tenham alcançado a votação que se esperava, "isto não significa uma vitória para os democratas", considera Diana Soller. A analista sublinha que o momento exige que os azuis "comecem a pensar no futuro". A questão que se coloca é se Biden terá condições para se recandidatar à presidência, hipótese sobre a qual a investigadora do IPRI tem dúvidas devido "à sua idade".
Numa campanha onde o tema da inflação foi rei, os republicanos aproveitaram o descontentamento sobre o estado da economia para ganhar pontos. Ron DeSantis conseguiu obter uma vitória esmagadora na Florida e, ao que tudo indica, o republicano poderá ser o principal opositor de Trump nas primárias, caso o ex-presidente deseje avançar com uma recandidatura à presidência.
Vitória de Ron DeSantis dá-lhe fôlego para 2024
O republicano Ron DeSantis foi reeleito governador da Florida com 59,4% dos votos. A vitória consolida a autoridade do governante e empurra-o para uma candidatura à presidência dos EUA, o que está a ser amplamente apontado pela imprensa.
"A sobrevivência da experiência americana requer um renascimento dos verdadeiros princípios", declarou, em reação aos resultados nas eleições intercalares. A investigadora do IPRI Diana Soller acredita que "com esta vitória, o republicano deverá decidir se quer juntar-se a Trump ou opor-se ao ex-presidente na corrida à Casa Branca".
Apesar de antes das presidenciais os possíveis candidatos terem de enfrentar as primárias, "percebe-se que há uma pessoa com capital político para começar a dar cartas no Partido Republicano. Poderemos ver surgir uma nova versão de Trump, mas com outro estilo pessoal", constata a especialista.
Senadores
John Fetterman (Partido Democrata)
O vice-governador da Pensilvânia virou a cadeira do Senado para os democratas em uma disputa renhida e vital para o partido. Fetterman, de 2,03 metros de altura, sofreu um AVC em maio deste ano, o que dificultou a campanha.
Ron Johnson (Partido Republicano)
O senador incumbente do Wisconsin teve uma estreita vantagem de cerca de 32 mil votos (94% apurados). Johnson estava em risco de perder, após polémicas como a oposição às vacinas e a recusa dos resultados das eleições de 2020.
Katie Britt (Partido Republicano)
A republicana será a primeira senadora mulher eleita do Alabama, substituindo o partidário Richard Shelby, que se aposenta após seis eleições. Britt obteve quase 67% dos votos no estado sulista (88% apurados).
Markwayne Mullin (Partido Republicano)
O próximo senador do Oklahoma é o primeiro nativo-americano do estado em quase cem anos a conquistar o cargo. Oriundo da Nação Cherokee, Mullin é um representante na câmara baixa do Congresso americano e entrará no lugar do senador republicano Jim Inhofe.
Charles Schumer (Partido Democrata)
O líder da maioria democrata no Senado ganhou a quinta eleição consecutiva pelo estado de Nova Iorque. Schumer, que obteve 56% dos votos (83% apurados), disse ontem sentir-se bem com os resultados para a câmara alta do Congresso dos Estados Unidos.
Governadores
Maura Healey (Partido Democrata)
A procuradora-geral de Massachusetts será a primeira governadora lésbica abertamente assumida nos Estados Unidos. Healey, que virou o cargo pertencente aos republicanos, também é a primeira mulher a governar o estado.
Wes Moore (Partido Democrata)
O autor bestseller que escreveu sobre a pobreza e a raça nos Estados Unidos foi eleito o primeiro governador negro de Maryland. Novato na política, retirou o cargo aos republicanos com quase 60% dos votos (89% apurados).
Greg Abbott (Partido Republicano)
O governador do Texas foi reeleito pela segunda vez, derrotando o democrata Beto O"Rourke com quase 55% dos votos (98% apurados). O republicano é um grande opositor de Biden e contestou os resultados das eleições de 2020.
Sarah Huckabee (Partido Republicano)
A ex-porta-voz da Casa Branca de Donald Trump tornar-se-á a primeira mulher agovernar o estado do Arkansas. Sarah Huckabee Sanders é filha do ex-governador do estado, o também republicano Mike Huckabee, que esteve no cargo entre 1996 e 2007.
Kathy Hochul (Partido Democrata)
A governadora de Nova Iorque, que assumiu o cargo em 2021, após a renúncia de Andrew Cuomo, tornou-se a primeira mulher eleita para comandar o estado, com 53% dos votos (94% apurados). A disputa contra Lee Zeldin, apoiado por Trump, foi uma das mais renhidas em anos.