O acesso à internet e às telecomunicações foi, esta quarta-feira, restabelecido no Afeganistão, após uma interrupção de quase 48 horas.
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Até ao momento, as razões para o apagão não foram identificadas, embora um funcionário de uma empresa de telecomunicações citado pela agência de notícias espanhola EFE tenha dito que o corte ocorreu por ordem do Governo talibã.
"Dados da rede em direto mostram o restabelecimento parcial da ligação à Internet no Afeganistão, num contexto de indignação após um apagão nacional de telecomunicações de dois dias", afirmou a organização internacional de monitorização do acesso à Internet NetBlocks, numa publicação na rede social X.
Às 17.30 horas de hoje (13.30 de Portugal continental), o acesso mantinha-se nos 56%, segundo a organização.
Os cidadãos afegãos viveram uma atmosfera de medo e isolamento com a interrupção da atividade das redes sociais e o corte de todas as ligações digitais com o país.
"Sinto-me como um morto-vivo. Nem sequer sabemos o que nos está a acontecer, nem por que está a acontecer isto", declarou Haidar Khan, residente em Cabul, durante o apagão.
"Estou em Cabul, mas a minha família está em Laghman. Devem estar profundamente preocupados comigo, e eu também estou preocupado com eles, mas todas as vias de comunicação foram bloqueadas. Recebo uma remessa mensal do estrangeiro, mas com a Internet e os serviços telefónicos inoperacionais, simplesmente não há forma de gerir nada agora", acrescentou.
Os voos com destino ao aeroporto de Cabul, bem como a atividade de bancos e empresas de serviços, foram afetados.
Rohani, residente na capital afegã, relatou que a interrupção do serviço o impediu de levantar o seu salário numa agência bancária.
O diretor de uma empresa de serviços financeiros afirmou que milhares de milhões de afegânis (a moeda do país) ficaram em risco durante o apagão.
Agora, a principal preocupação dos cidadãos é que as interrupções voltem a ocorrer.
"Tememos que voltem a cortar a Internet. O Afeganistão ficou como uma prisão: tudo estava fechado. A única coisa que os talibãs não controlam é o oxigénio; se pudessem, também o teriam cortado", disse o estudante de Medicina Alia Alkozai, citado pela EFE.
A ONU e as organizações humanitárias apelaram aos talibãs durante toda a terça-feira e o dia de hoje para que restabelecessem o acesso à Internet.
As organizações de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e Amnistia Internacional responsabilizaram os fundamentalistas, no poder desde agosto de 2021, pelo corte das comunicações.
Em meados de setembro, os talibãs ordenaram cortes no acesso à Internet por fibra ótica em algumas regiões do norte do país, argumentando que tais medidas tinham sido tomadas para impedir "atividades imorais".