Com a polémica do burquíni no topo do mediatismo em França surge o caso de um restaurante que recusou servir duas muçulmanas que usavam véu islâmico. Uma delas filmou o sucedido.
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"Minha senhora, os terroristas são muçulmanos e todos os muçulmanos são terroristas". Foi com esta afirmação contundente que o dono de um restaurante em Tremblay, no distrito de Saint-Denis, nos arredores de Paris, recusou servir duas clientes que usavam véu islâmico (hijab).
Aconteceu no sábado, quando as duas mulheres já estavam sentadas à mesa. De repente, furioso, surge o dono. A antever o que se poderia passar, uma delas gravou a cena com o telemóvel. E divulgou as imagens na internet, reacendendo a polémica que nas últimas semanas tem agitado a opinião pública, com a proibição do uso do burquíni (fato de banho para muçulmanas) em alguns municípios franceses.
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As duas mulheres mantêm-se à mesa e insistem com o proprietário do restaurante "Le Cenacle" para lhes dar explicações para a sua recusa. "Não queremos que um racista nos sirva", contrapõem a certa altura. "Os racistas como eu não matam pessoas", atirou o homem.
"Mas nós pusemos alguma bomba?", insiste uma das mulheres, numa altura em que a outra, nervosa, começa a chorar. "Estou num país laico e tenho o direito de dar a minha opinião. Gente como vocês não quero no meu estabelecimento", frisou o proprietário.
O vídeo foi divulgado num portal islâmico e de imediato originou comentários indignados, a apelar ao boicote ao restaurante. A associação contra a islamofobia em França (CCIF) publicou na rede social Facebook recomendações de como difundir aquela situação de forma a "mostrar a realidade que vivem os muçulmanos" e atingir a reputação do restaurante.
Por outro lado, a associação disponibilizou apoio psicológico e jurídico às duas mulheres com vista a conseguir uma "condenação exemplar" do dono do restaurante.
Ao verificar as reações originadas pela divulgação do vídeo, o proprietário do "Le Cenacle" aceitou reunir-se este domingo com vários membros da comunidade muçulmana de Tremblay, a quem pediu desculpa pelo seu comportamento. "Um amigo meu morreu no Bataclan", justificou, referindo-se aos atentados de Paris a 13 de novembro de 2015, reivindicados pelo Estado Islâmico.
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A polémica foi tal que a ministra com a tutela dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, anunciou na rede social Twitter que ordenou uma investigação ao "comportamento intolerável" do dono do "Le Cenacle".