No mesmo dia que John Kerry anunciou o reforço dos ataques aéreos sobre o bastião do Estado islâmico na Síria, Putin aliou-se a Hollande no combate aos terroristas.
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O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, revelou na terça-feira que os ataques aéreos contra o grupo jiadista Estado Islâmico (EI), que aumentaram nos últimos dias, vão intensificar-se.
O chefe da diplomacia dos EUA declarou à France2 que, ainda que as incursões na Síria dependam, em termos gerais, dos objetivos, vão prosseguir porque têm vindo a dar bons resultados.
Kerry, que se reuniu com o presidente de França, François Hollande, no Eliseu, assinalou que, com o aumento dos bombardeamentos, o EI "cada vez terá mais dificuldades", como mostra o facto de já ter perdido 25% do seu território de ação.
"Avançamos para os pressionar", afirmou Kerry na entrevista, sublinhando que são visadas as vias de abastecimento do grupo, com vista a terminar o contrabando de petróleo da organização terrorista com países como o Iraque e a Turquia, "uma fonte importante de financiamento".
O secretário de Estado norte-americano descartou ainda o envio de tropas e sublinhou que "não é a melhor estratégia", pois as pessoas no terreno devem ser cidadãos locais, aos quais compete "tomar o poder", razão pela qual é "tão importante" uma solução política, que pode ter lugar a curto prazo.
"Pela primeira vez temos o Irão e a Rússia na mesa das negociações. Se nas próximas semanas conseguirmos que a oposição e os apoiantes de Al Asad [presidente sírio] se encontrem, acreditamos que podemos alcançar um cessar-fogo", afirmou Kerry.
Alcançado esse objetivo, "se for possível pôr em marcha de forma efetiva uma transição política, poderemos mobilizar as forças governamentais com a oposição para combater juntos o EI. Essa é a solução mais eficaz", acrescentou.
Kerry recordou ainda que o seu país continua a defender que a saída do presidente sírio "continua a ser essencial", pois "perdeu toda a credibilidade perante o seu povo" e não voltará a ser legítimo na governação do país.
Putin ordena cooperação com militares franceses
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou à marinha russa no Mediterrâneo que estabeleça contacto com os militares franceses e trabalhe em conjunto "com os aliados" numa campanha contra o grupo jiadista Estado Islâmico na Síria.
Putin deu instruções aos militares russos para que elaborem um plano de ação conjunto russo-francês contra os extremistas do grupo que se autointitula Estado Islâmico, ao mesmo tempo em que insiste na ideia da criação de uma grande coligação internacional para o combater, que envolveria a Rússia e o Ocidente.
"É necessário estabelecer contacto direto com os franceses e trabalhar com eles como aliados", disse Putin aos oficiais de alta patente num encontro realizado depois de o presidente francês, François Hollande, ter afirmado que o porta-aviões Charles de Gaulle seria enviado para o Mediterrâneo Oriental.
"É necessário criar com eles um plano de ação conjunto tanto no mar como no ar", frisou Putin, acrescentando que tanto o chefe do Estado-Maior quanto o ministro da Defesa receberam ordens nesse sentido.
O Kremlin declarou em separado que Putin e Hollande acordaram, em conversa telefónica, aumentar a cooperação e atacar em conjunto "o terrorismo internacional".
"Foi acordado que se garanta um contacto mais próximo e coordenação entre militares e agências de serviços de segurança dos dois países durante operações da Rússia e da França contra grupos terroristas na Síria", indicou o Kremlin em comunicado emitido após a conversa por telefone entre Putin e Hollande.
Ambos discutirão mais pormenorizadamente o combate ao terrorismo num encontro em Moscovo, a 26 de novembro, referia ainda o comunicado.
Putin tem procurado beneficiar da mudança de dinâmicas no Ocidente após os atentados terroristas de sexta-feira em Paris e a conclusão de que a queda do avião russo de passageiros sobre o Sinai, em outubro, foi um ataque terrorista, argumentando que a Rússia e o Ocidente deveriam unir-se contra o inimigo comum.
Terceiro dia de ataques de França à Síria
A aviação francesa atacou na terça-feira, pelo terceiro dia consecutivo, Raqqa, bastião do EI, no norte da Síria, revelou o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian.
"Neste momento, dez caças franceses estão sobre Raqqa," declarou o governante ao canal televisivo TF1, quatro dias após os ataques terroristas em Paris reivindicados pelo EI.
Os atentados de sexta-feira, que fizeram pelo menos 129 mortos e mais de 350 feridos, vitimando pessoas de 19 nacionalidades, levaram a que fosse decretado o estado de emergência e o encerramento das fronteiras em França.
Na segunda-feira, o presidente francês, François Hollande, num discurso perante os deputados e senadores reunidos extraordinariamente em Versalhes, anunciou "a intensificação das operações na Síria" - que classificou de "a maior fábrica de terroristas".
Hollande solicitou igualmente a criação de uma "coligação internacional" contra o EI e reclamou uma reforma constitucional - a ser adotada "o mais rápido possível" - para melhorar as formas de luta contra o terrorismo.