Na cidade que é centro dos combates no Donbass, ainda estarão mais de 4000 civis encurralados. Autoridades ucranianas só estão a conseguir retirar entre cinco e dez por dia.
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Caíram de cerca de 600 para entre cinco e dez pessoas por dia, retiradas da linha da frente dos combates em Bakhmut, cidade reduzida a escombros, morte, fome e devastação, que traduz um quadro de crise humanitária que se agrava em cada dia, com a investida das forças ao serviço de Moscovo - sobretudo os mercenários do grupo Wagner - a avançar rua a rua, numa lógica de erosão de tudo o que ainda não tenha sido arrasado.
"O inimigo explode tudo no chão, ataca prédios de vários andares e o setor residencial. Há ataques aéreos, bombardeamentos de artilharia, bombardeamentos de morteiros. O inimigo está a atacar a cidade com tudo o que pode. Não há como chegarmos lá", descreveu o vice-presidente de Bakhmut, Oleksandr Marchenko, em declarações à estação norte-americana CNN, citadas pelo jornal britânico "The Guardian".
Marchenko diz ser muito difícil convencer a sair os 4000 a 4500 civis que ainda se encontram encurralados na cidade, que sobrevivem como podem em caves de edifícios destruídos, sem água ou eletricidade. A maioria, relata o autarca, "tem medo de não ter para onde ir e nada com que ir". Oleksandr Marchenko contou ainda, à mesma estação, que permanecem quatro médicos na cidade.
As Forças Armadas ucranianas garantem que continuam a impedir ataques russos no terreno e prometem prosseguir na defesa da "Fortaleza Bakhmut", cidade que se transformou num troféu político, dada a sua localização vital e estratégica para o domínio da província de Donetsk, anexada ilegalmente por Moscovo no final de setembro, na disputada região do Donbass.
O Estado-Maior ucraniano, citado pelo "The Guardian", garante ter repelido "mais de 130 ataques inimigos" este fim de semana, em Kupiansk, Lyman, Bakhmut e Avdiivka.
Naquela que é já a mais longa e sangrenta batalha da ofensiva russa em solo ucraniano, Bakhmut foi reduzida a quase nada. Serhiy Cherevaty, porta-voz das forças ucranianas, assinalou que a situação está "difícil mas sob controlo", na cidade que descreveu como "alvo prioritário para o inimigo".
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, sedeado nos Estados Unidos, os combates decorrem dentro e ao redor da cidade. O organismo alertou que as rotas de abastecimento ucranianas na área estão cada vez mais estreitas.
Batalha "dolorosa e difícil"
Também o presidente Volodymyr Zelensky se referiu este domingo, na sua comunicação diária, à batalha que há semanas se trava em Bakhmut, descrevendo-a como "dolorosa e difícil". "Gostaria de prestar uma homenagem especial à bravura, força e resiliência dos soldados que lutam no Donbass", disse o chefe de Estado.
Zelensky agradeceu ainda às tropas de Kiev que "repeliram os ataques, destruíram o ocupante, enfraqueceram as posições e a logística do inimigo e protegeram as fronteiras e as cidades". E acrescentou: "Agradeço a todo o exército, aos guardas, aos guardas de fronteira, que estão a defender o nosso Estado em Bakhmut, Vugledar, Avdiivka, Siversk, Svatove, Lyman e Zaporíjia".