Robert Fico, que lidera o partido populista de esquerda Smer-SSD, é primeiro-ministro da Eslováquia desde outubro de 2023, altura em que ganhou as eleições com promessas de suspender o apoio militar à Ucrânia.
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Durante a campanha eleitoral do ano passado, Robert Fico, de 59 anos, prometeu aos seus apoiantes que não seriam enviadas munições para a Ucrânia e que seria oferecida resistência às sanções ocidentais contra a Rússia se fosse eleito, recorda a BBC.
Desde 2018 que o político eslovaco tem vindo a adotar posições anti-imigração e eurocépticas que o aproximam do ultranacionalista Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, do partido ultra-conservador Fidesz.
A vitória de Fico foi vista como um golpe para as forças pró-ocidentais e uma vantagem para líderes como Viktor Orbán, que também criticou as sanções da União Europeia (UE) contra Moscovo por prejudicarem a economia.
Robert Fico, que nega ser pró-russo, regressou ao poder depois de já ter ocupado o cargo de primeiro-ministro na Eslováquia entre 2006 e 2010 e entre 2012 e 2018. Na altura, renunciou ao cargo na sequência dos protestos populares e da agitação provocada pelo assassínio de Ján Kuciak, um jornalista que investigava as ligações entre o crime organizado e o poder político.
Fico, que ficou ferido esta quarta-feira à tarde num tiroteio, detém o recorde de primeiro-ministro há mais tempo em funções na história da Eslováquia. O primeiro-ministro governa com o seu partido Smer e outra formação que também se define como social-democrata, A Voz (Hlas), ambos suspensos do Partido dos Socialistas Europeus por se aliarem ao SNS, de extrema-direita.
As reformas do Executivo de Robert Fico já originaram vários protestos desde que regressou ao poder, para um terceiro mandato. Entre as decisões mais polémicas destacam-se o encerramento da Procuradoria Anti-Corrupção, que investigava casos ligados ao seu partido, o ataque às restrições durante a pandemia de covid-19 como parte da Oposição, bem como o facto de ter questionado o efeito das vacinas.
Fico fez ainda campanha contra os direitos da comunidade LGBTQ+ e, neste momento, o parlamento está a analisar uma lei sobre as ONG, que as obriga a revelar se recebem financiamento estrangeiro. A Oposição compara esta medida à proposta de lei da Hungria, na qual Viktor Orbán pretende impedir o financiamento estrangeiro dos partidos, ONG e órgãos de comunicação social independentes.
Fim da ajuda militar à Ucrânia
Depois de formar um novo governo no outono do ano passado, Robert Fico suspendeu a ajuda militar anteriormente substancial da Eslováquia à Ucrânia, embora tenha continuado a enviar assistência humanitária.
No segundo aniversário da invasão russa, Fico chegou a afirmar que a estratégia do Ocidente era "destruir a Rússia" e, apesar de reconhecer que a invasão viola o direito internacional, solidarizou-se com o Kremlin.
Em janeiro deste ano, insistiu que vetaria a adesão da Ucrânia à NATO porque acredita que isso levaria à eclosão de uma guerra mundial. "Sou contra a entrada da Ucrânia na NATO. Usarei o direito de veto porque [a adesão da Ucrânia] poderia provocar o início da III Guerra Mundial", afirmou numa entrevista de rádio.
O primeiro-ministro eslovaco critica a UE, da qual o seu país é membro, por dar à Ucrânia "apoio militar e económico ilimitado". O político defende ainda que "a estratégia contra a Rússia falhou" e que o Ocidente não se apercebe que "dentro de um ano ou dois" estará na mesma situação.
A 1 de fevereiro, os líderes da UE chegaram a um acordo sobre apoio financeiro de 50 mil milhões de euros à Ucrânia. Porém, este acordo que foi alcançado numa reunião extraordinária dos chefes de Governo e de Estado da UE chegou a estar em causa devido ao bloqueio da Hungria.
Eslovacos unem-se para contrariar governo
Depois de Robert Fico por fim à ajuda militar a Kiev, surgiu uma campanha na Eslováquia para comprar munições para a Ucrânia, a "Paz para a Ucrânia", que rejeita a recusa do Governo em enviar ajuda militar ao país vizinho.
No final de abril, milhares de pessoas já tinham contribuído com 575 mil euros para a campanha de "crowdfunding". A organização planeia transferir o dinheiro angariado para um projeto internacional liderado pela República Checa para comprar munições para Kiev.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, desencadeada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a II Guerra Mundial (1939-1945).
Encerramento dos media públicos
O governo da Eslováquia aprovou, em abril deste ano, o encerramento do canal público de rádios e televisão RTVS, que acusa de informar de forma subjetiva e não independente.
O projeto controverso será ainda debatido no Parlamento, com a votação marcada para o final de junho.
Robert Fico e a ministra da Cultura, Martina Simkovicova, promotora da medida, criticaram reiteradamente a gestão da RTVS por alegada parcialidade e chegaram a tentar demitir o diretor-geral da estação, sem sucesso.
A iniciativa foi alvo de críticas, tanto da Oposição como de jornalistas críticos do governo de Fico, que acusam o executivo de querer substituir a RTVS, que consideram objetiva e independente, por uma emissora de propaganda ligada ao governo.