Famoso pelas opiniões controversas em relação a temas sensíveis como o aborto ou o porte de armas, Ron DeSantis, governador da Florida, anunciou, esta quarta-feira, que vai entrar na corrida às presidenciais de 2024. Antes disso, nas eleições primárias, o republicano terá de enfrentar aquele que, em tempos, o ajudou a ganhar fôlego político: Donald Trump.
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Aos 44 anos, Ron DeSantis ainda é considerado uma figura relativamente pouco conhecida no panorama político nacional, mas isso não impede o republicano de ensombrar o caminho de Donald Trump.
Nascido em Jacksonville, na Florida, em 1978, estudou História na Universidade de Yale, onde foi capitão da equipa de basebol, mas pouco depois viria a ingressar na faculdade de Direito de Harvard. Durante o segundo ano do curso, DeSantis ingressou na Marinha dos EUA, onde trabalhou com os condenados da prisão de Guantánamo, sendo ainda consultor jurídico dos Navy Seals, o grupo de elite da Marinha.
Embora tenha sido dispensado com honras do serviço militar em 2010, De Santis continuou a servir na reserva da Marinha norte-americana. Foi nessa altura que conheceu a esposa, Casey - uma repórter da televisão local que sobreviveu a um cancro e ajudou a arrecadar fundos após a passagem do furacão Ian, em 2022.
Em 2012, foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Representantes e, já posicionado no núcleo da política, ajudou a fundar o grupo de conservadores de extrema-direita "Freedom Caucus".
Depois de seis anos no Capitólio, DeSantis anunciou a intenção de concorrer a governador da Florida com o apoio total do então presidente Donald Trump, conseguindo tornar-se líder do estado norte-americano que lhe serviu de berço. No ano passado, no seguimento das eleições intercalares norte-americanas, foi reeleito para o cargo.
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"DeSanctimonius"
Durante os anos em que esteve no Congresso, entre 2013 e 2018, DeSantis foi descrito por Trump como um "jovem líder brilhante", mas, desde então, muita coisa mudou na relação com o ex-presidente, que agora se refere ao governador da Florida como de "DeSanctimonius" ("DeHipócrita", em português).
Em 2018, quando ainda era um candidato desconhecido apoiado por Trump, o estado da Florida elegeu-o como governador com uma diferença de 33 mil votos do candidato que ficou em segundo lugar, porém, quatro anos mais tarde acabou por ser reeleito com uma margem de 1,5 milhões de votos.
A grande dúvida é se a receita do sucesso terá as mesmas repercussões a nível nacional. Conhecido no meio político por ter uma personalidade fria e implacável, tem adotado uma retórica conservadora que se sustenta nas medidas que tem adotado enquanto líder estadual.
Desde a proibição de conversas sobre identidade sexual e de género nas escolas, à oposição às restrições pandémicas, até ao episódio no qual enviou 50 imigrantes de avião para uma ilha democrata em Massachusetts com o intuito de denunciar a política de imigração de Joe Biden, DeSantis tem feito jus aos princípios de extrema-direita pelos quais o Partido Republicano se tem regido nos últimos anos.
No início da crise de saúde pública, DeSantis decretou estado de emergência na Florida até que, apenas três semanas depois, mudou de ideias após "perder a fé" no "sistema científico", segundo um dos assessores.
Em 2020, a Florida ficou sob os holofotes do Mundo por ser considerada o "epicentro da pandemia", já que, numa altura de pico de casos, reabriu as escolas e acabou com grande parte das restrições, bem como deixou de lado a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Essas decisões renderam a DeSantis várias críticas da Imprensa e o macabro apelido de "DeathSantis" ("Santis da Morte"), mas também fizeram do governador, a reboque da Fox News, um herói nacional para aqueles que viam as medidas de prevenção da covid-19 como um ataque às liberdades individuais.
Outro dos traços que a Imprensa norte-americana destaca em Ron DeSantis é a grande proximidade à família, que, de acordo com as convicções dos republicanos, é um dos grandes pilares de um líder.
A mulher e os três filhos são figuras omnipresentes nas ações de campanha, o que já levou a que antigo pupilo do magnata fosse comparado a John F. Kennedy. A analogia deve-se ainda à juventude do candidato à Casa Branca, que, em 2024, terá 46 anos - o que poderá ser um ponto a favor na hora do frente a frente com Trump.