Em reunião com os líderes da câmara baixa do Parlamento, o presidente russo desafiou ainda o Ocidente a derrotar a Rússia no campo de batalha.
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Vladimir Putin elevou o tom e lançou, esta quinta-feira, as declarações mais violentas desde o arranque da ofensiva russa na Ucrânia. Garante o presidente que as suas tropas ainda não começaram "nada a sério" em território ucraniano e atirou uma provocação ao Ocidente: que tente derrotar as tropas russas no campo de batalha.
"Hoje, ouvimos que eles nos querem derrotar no campo de batalha. O que é que podemos dizer, deixem-nos tentar. Ouvimos muitas vezes que o Ocidente quer lutar contra nós até ao último ucraniano. Esta é uma tragédia para o povo ucraniano, mas parece que tudo está a caminhar para isso", disse Vladimir Putin, numa reunião com os líderes da câmara baixa do Parlamento (Duma), no Kremlin, que teve transmissão televisiva.
E não ficou por aqui. O chefe de Estado russo garantiu que a intervenção de Moscovo na Ucrânia ainda mal começou, mas não descartou retomar negociações de paz com Kiev: "Todos devem saber que, em geral, ainda não começámos nada a sério. Ao mesmo tempo, não rejeitamos as negociações de paz. Mas aqueles que as rejeitam devem saber que, quanto mais longe forem, mais difícil será para eles negociarem connosco".
Naquele que foi o discurso mais duro dos últimos meses, Putin assumiu ter a atenção voltada para a região do Donbass, no Leste ucraniano; dirigiu críticas ao Ocidente, devido ao fornecimento de armas à Ucrânia, e sacudiu culpas da guerra, alegando que o Ocidente, sob liderança dos Estados Unidos, foi "extremamente agressivo para com a Rússia durante décadas".
Avisos ignorados
Diz o presidente que esbarraram na rejeição, as suas propostas de criação de um novo sistema de segurança na Europa, assim como as tentativas de resolver a ameaça da defesa antimíssil dos Estados Unidos na Europa. Considera Putin que o Ocidente desvalorizou os avisos de que a Rússia não poderia aceitar a expansão da NATO a Leste, sobretudo nas antigas repúblicas soviéticas. "Porquê? Porque simplesmente não precisam de um país como a Rússia, é por isso", assinalou.
"Foi por isso que apoiaram o terrorismo, o separatismo na Rússia, as forças destrutivas internas e a "quinta coluna" no nosso país. Todos eles receberam e recebem apoio incondicional deste mesmo Ocidente coletivo", atirou o líder do Kremlin.
A distribuição de culpas visou ainda o conflito no Donbass, território onde separatistas pró-Rússia iniciaram, há oito anos, uma luta armada contra Kiev, apoiados por Moscovo, e que sucedeu à anexação russa da península da Crimeia.
"Dizem-nos que começámos uma guerra no Donbass, na Ucrânia. Não, foi desencadeada por este mesmo Ocidente coletivo ao organizar e apoiar um golpe armado anticonstitucional na Ucrânia em 2014, e depois ao encorajar e justificar o genocídio do povo do Donbass", disse Putin.
Defender os separatistas do Donbass e "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia foi, de resto, o argumento de Moscovo para iniciar a "operação militar especial" no país vizinho, de que o Ocidente, diz Putin, é o "instigador e culpado".
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