
Foto: Joe Giddens/AFP
O pai da menina britânica desaparecida no Algarve Madeleine McCann, Gerry McCann, apelou a uma maior fiscalização por parte dos meios de comunicação social do Reino Unido, afirmando numa entrevista publicada esta quarta-feira que a família foi alvo de "assédio" por parte de alguns órgãos de imprensa.
Gerry McCann disse à BBC que certos setores dos média britânicos o fizeram sentir como se estivesse a ser "sufocado e enterrado" após o desaparecimento da filha.
Madeleine tinha três anos quando desapareceu, em 2007, do apartamento em Portugal onde a família passava férias. O caso levou a uma busca global massiva e quase duas décadas de atenção mediática implacável, mas o caso permanece por resolver.
McCann afirmou, na rara entrevista, que ele e a mulher, Kate, tiveram "sorte em sobreviver" à intromissão da imprensa, que o fez sentir como se estivesse a "afogar-se". "Jornalistas a virem a nossa casa, fotógrafos a enfiarem literalmente as câmaras contra a janela do nosso carro quando tínhamos gémeos de dois anos no banco de trás, que estavam aterrorizados", recordou.
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O homem alegou ainda que a imprensa "interferiu repetidamente" na investigação do desaparecimento de Madeleine. Os meios de comunicação social "publicaram material que deveria ter sido confidencial, que deveria ter sido passado à polícia, depoimentos de testemunhas, muitas outras coisas que foram divulgadas. Portanto, se fosse o perpetrador, sabia muito mais do que devia - e como vítima, como pai, é absolutamente desolador", acrescentou.
Pressão para a regulamentação
Os McCann estão entre as mais de 30 pessoas que, segundo consta, assinaram uma carta ao primeiro-ministro britânico Keir Starmer, instando o governo trabalhista a retomar uma investigação sobre as práticas dos média.
A chamada Investigação Leveson foi instaurada em 2011, após um escândalo em que jornalistas do extinto "News of the World" colocaram escutas nos telefones de britânicos de alto perfil, incluindo uma estudante assassinada. A investigação levou à criação de um novo órgão regulador da imprensa, mas uma segunda fase para estudar as relações entre jornalistas, políticos e polícia foi cancelada pelo anterior governo conservador e não foi retomada pelo Partido Trabalhista desde que assumiu o poder em julho do ano passado.
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O pai de Madeleine acrescentou acreditar que uma mulher polaca que se fez passar pela filha e foi condenada no mês passado por assediar a família tinha sido incentivada por alguns órgãos de imprensa. "Muitos canais de comunicação social exploraram-na desde o início, colocando-a nas manchetes", referiu sobre Julia Wandelt, de 24 anos, absolvida de uma acusação mais grave de perseguição.
McCann disse que, passados 18 anos, "a esperança é pequena" de encontrar Madeleine, "mas não está extinta". "Precisamos de descobrir o que lhe aconteceu", rematou.
O principal suspeito do desaparecimento de Madeleine, Christian Brueckner, nunca foi formalmente acusado no caso. Foi libertado da prisão na Alemanha em setembro, após cumprir pena por outros crimes de violação.
