O multimilionário de cabelo volumoso que usava calções em eventos com ex-presidentes dos EUA e que dizia querer doar 99% da fortuna é "uma fraude". Sam Bankman-Fried, nome curioso para um homem acusado de "fritar" quase dois milhões de investidores, fundou a corretora de moeda virtual FXT, em 2019. Acumulou fortuna a um ritmo só superado pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, fez doações milionárias e em menos de três anos acabou detido numa prisão das Bahamas, onde vivia entre o luxo e o hedonismo.
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Filho de professores de direito da Universidade de Stanford, em São Francisco, uma das mais prestigiadas do Mundo, Samuel Bankman-Fried, de 30 anos, estudou matemática e física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o famoso MIT.
Sam Bankman-Fried ingressou na corretora nova-iorquina Jane Street, em 2014, de onde saltou para o mundo das criptomoedas, que começava a ganhar força. Em 2017, criou a primeira empresa de negociação de criptoativos, a Alameda Research e, em 2019, avançou com a corretora de criptomoedas FTX. O elo entre as duas ser-lhe-ia fatal. À boleia dos anos dourados das criptomoedas, a empresa tornou-se numa das maiores plataformas de moeda digital e Bankman-Fried fez-se multimilionário. Privou com celebridades de vários quadrantes da sociedade, de desportistas de topo como Stephen Curry ou Naomi Osaka, modelos como Gisele Bundchen, e políticos de calibre mundial.
Em abril, despertou sorrisos e atenções ao participar numa conferência, nas Bahamas, de calções e t-shirt ao lado do ex-presidente dos EUA Bil Clinton e do antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair. A estrela do futebol americano, Tom Brady, foi outra das figuras que conseguiu convencer a participar no evento, organizado na ilha caribenha onde vivia, alegadamente, numa rede que misturava negócios e prazer.
Segundo o jornal britânico "The Guardian", muitas das pessoas no círculo interno do império criado por Bankman-Fried compartilhavam uma cobertura de luxo nas Bahamas e faziam parte de uma "polícula": uma teia de relacionamentos românticos interconectados, uma espécie de amor livre entre os quadros da empresa.
A namorada de Bankman-Fried, Caroline Ellison, que era CEO da Alameda, subsidiária da FTX, e outros quadros da empresa seriam adeptos do poliamor, uma forma consensual de poligamia em que os casais procuram múltiplos relacionamentos românticos ou sexuais.
Com um estilo de vida relaxado, SBF, como era conhecido no meio, usava a rede social Twitter para cultivar a imagem de um jovem génio descontraído da finança: publicava fotos de sonecas em pufs ou sofás da FXT, falava sobre videojogos e cultivava uma personalidade pública construída em cima da filantropia e do que chamava de "altruísmo efetivo": as coisas práticas que podemos fazer na vida para ter o máximo impacto possível, segundo disse à BBC.
Em agosto, a revista "Fortune" fez capa com Sam Bankman-Fried, que apelidou de "novo Warren Buffett", em alusão ao homem que já foi o mais rico do mundo e que está eternizado, há anos, no top dos mais endinheirados, com uma fortuna construída essencialmente em negócios na bolsa de valores.
Capa da revista "Forbes"
Bankman-Fried financiou empresas de criptomoedas mais pequenas em dificuldades, clubes desportivos e vária causas sociais. Dizia que queria doar 99% da fortuna, que chegou a rondar os 30 mil milhões de euros, o pico do valor atingido pela FTX. Durante os curtos anos na ribalta, financiou também os principais partidos norte-americanos, com doações em nome próprio ou de assessores (uma forma fraudulenta de contornar os limites às doações políticas impostas pela lei norte-americana).
Foi o segundo maior doador individual para a campanha democrata das eleições intercalares de novembro, com 40 milhões de euros, só superado pelo multimilionário George Soros. A 11 de novembro, apenas três dias após o ato eleitoral, a FXT entrou com um pedido de falência. Um mês depois foi detido nas Bahamas, onde estava a sede da empresa e a casa que partilharia com a namorada e outros quadros da companhia. Uma juiza decretou prisão preventiva, enquanto aguarda julgamento.