O primeiro-ministro espanhol negou, esta quinta-feira, no Senado, qualquer financiamento ilegal no Partido Socialista (PSOE) e garantiu que lidera um "governo limpo", numa audição de cinco horas em que classificou a comissão de inquérito como "um circo".
Corpo do artigo
O PSOE é um partido com "financiamento absolutamente limpo, absolutamente regular, absolutamente legal", com contas duplamente verificadas e certificadas, pelo Tribunal de Contas e por uma auditoria externa, disse Pedro Sánchez, várias vezes, numa comissão de inquérito no Senado, a câmara alta das Cortes de Espanha.
Sánchez foi ouvido numa comissão de inquérito sobre suspeitas de corrupção no governo e no PSOE, criada no Senado, onde o Partido Popular (PP, direita, na oposição) tem maioria absoluta, ao contrário do que acontece no Congresso dos Deputados, a câmara baixa das Cortes e vulgarmente designado como parlamento.
Ao longo de cinco horas, em que os senadores o questionaram sistematicamente com as mesmas questões e sem levantar qualquer aspeto ou informação até agora desconhecidos, Sánchez acabou por repetir várias vezes aquilo que já disse publicamente nos últimos meses sobre o "caso Koldo", que envolve dois antigos dirigentes socialistas, um deles também ex-ministro (Santos Cerdán e Jose Luis Ábalos), e o assessor de um deles (Koldo Garcia, que dá nome ao processo).

Foto: Javier Soriano/ AFP
O líder do Governo reiterou também que tanto a mulher, Begoña Gómez, como o irmão, David Sánchez, ambos envolvidos em processos judiciais por suspeitas de tráfico de influências, são inocentes.
Sánchez insistiu em que os relatórios da investigação judicial e policial que envolve Ábalos, Cerdán e Koldo García não concluem nem sugerem que haja financiamento ilegal do PSOE e que estejam em causa suspeitas de corrupção para benefício pessoal.
Envelopes com dinheiro
Uma das questões em que insistiram diversos senadores foi na entrega pelo PSOE de envelopes com dinheiro a Ábalos, como referem os relatórios da investigação judicial.
Sánchez voltou a dizer serem liquidação de despesas de representação, que são sempre pagas contra fatura a dirigentes do partido, como já aconteceu com ele próprio, secretário-geral do PSOE.
O PSOE está a colaborar com a polícia e com a justiça neste caso, garantiu, reiterando que só soube das suspeitas quando a investigação policial foi tornada pública e que afastou de imediato os suspeitos dos cargos que ocupavam.
Sánchez afirmou liderar "dos governos mais limpos e mais honestos da história da democracia" espanhola, ao contrário do PP, lembrando que chegou ao poder, em 2018, na sequência de uma moção de censura ao então primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy por causa de sentenças dos tribunais que condenaram a corrupção no Partido Popular, incluindo "corrupção sistémica" em diversas instituições.
"A corrupção sistémica saiu do Palácio da Moncloa [sede do Governo] em 2018", afirmou, numa das várias vezes em que usou casos do PP para responder a perguntas.
"Comissão de difamação"
Sánchez considerou que os senadores do PP e de outros partidos de direita e extrema-direita chegaram à audição de hoje já com "títulos feitos" e sem perguntas preparadas para verdadeiramente investigar alguma coisa.
Em linha com o que foram dizendo senadores de partidos de esquerda que fazem parte da "geringonça" que o reinvestiu primeiro-ministro em 2023, chegou mesmo a classificar a audição como "um circo" e afirmou estar perante uma "comissão de difamação", que decorre há um ano e meio sem qualquer conclusão ou novidade.
Sánchez lamentou que o Senado, que nasceu para ser a câmara "de representação territorial e de controlo democrático" das Cortes espanholas, esteja a ser usado pelo PP com "objetivos partidários", numa "grosseira instrumentalização" da câmara alta das Cortes de Espanha.
Por causa de declarações como esta, o primeiro-ministro foi por diversas vezes criticado por senadores e pelo presidente da comissão, do PP, por não respeitar os trabalhos e o próprio Senado.

Foto: Chema Moya/EPA
A audição de hoje, que teve vários momentos de tensão e atropelos entre Sánchez e senadores de direita, foi um momento raro na democracia espanhola, por ter sido a segunda vez que um chefe do Governo em exercício foi a uma comissão de inquérito parlamentar responder a deputados ou senadores. Até agora, só tinha ocorrido em dezembro de 2004, quando José Luís Rodriguez Zapatero, também socialista, foi ouvido na comissão sobre os atentados terroristas de 11 de março do mesmo ano em Madrid.
