Sánchez no olho do furacão na guerra comercial em que a China quer ser aliada da União Europeia
O Governo chinês, que lançou esta sexta-feira taxas de 125% sobre os produtos dos Estados Unidos, acusou Washington de fazer “jogo de números”. O presidente da China, Xi Jinping recebeu o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, e defendeu que a União Europeia é um “pólo vital” para um Mundo multipolar.
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A China coloca este sábado em vigor uma nova taxa alfandegária em retaliação à guerra comercial iniciada por Donald Trump, com Pequim a tributar agora os produtos dos Estados Unidos em 125% e a dizer que não continuará com “o jogo de números” de Washington. Esta resposta às tarifas americanas de 145% sobre os bens chineses – 20% implementadas em março e 125% aplicadas esta semana – ocorreu enquanto o presidente da China, Xi Jinping, recebeu o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, com o líder do gigante asiático a defender maiores laços com a União Europeia.
Além do aumento de 84% para 125% nas taxas sobre as importações provenientes dos EUA, Pequim apresentou uma queixa contra os norte-americanos na Organização Mundial do Comércio – movimento considerado simbólico, uma vez que a entidade se encontra com as atividades paralisadas devido ao bloqueio na nomeação de juízes por Washington. “A imposição de tarifas anormalmente elevadas à China por parte dos EUA viola gravemente as regras do comércio internacional, as leis económicas básicas e o senso comum”, declarou a Comissão Tarifária do Conselho de Estado chinês, citada pelo Ministério das Finanças.
A China, que responsabilizou totalmente os EUA pela “turbulência” económica global dos últimos dias, prometeu “ignorar” novos aumentos de taxas que eventualmente o líder da Casa Branca anuncie. “Tornou-se um jogo de números sem significado prático na Economia”, classificou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, que frisou que “isto só irá expor ainda mais o bullying e a coação dos Estados Unidos”. “Vai virar piada”, completou.
A mesma tutela argumentou ainda que a suspensão de 90 dias nas “tarifas recíprocas” de Trump sobre os produtos dos outros países aconteceu devido à “pressão da China e de outras partes”. “Este é apenas um pequeno passo simbólico”, qualificou o Ministério do Comércio.
Xi Jinping: “não há vencedor”
Em viagem pelo continente asiático, o primeiro-ministro espanhol visitou a China após o Vietname. Pedro Sánchez reuniu-se com Xi Jinping, que fez as primeiras declarações públicas sobre a disputa comercial com os EUA. O presidente chinês afirmou que “não há vencedor numa guerra tarifária e ir contra o Mundo só resultará em auto isolamento”. “A China não se deixa intimidar perante qualquer repressão injusta”, salientou Xi, em discurso reproduzido pela agência oficial Xinhua.
O líder chinês considera a União Europeia um “pólo vital” num cenário multipolar, apelando à unidade, ao desenvolvimento e crescimento do bloco comunitário. O chefe de Estado exortou à China e à UE para que trabalhem em conjunto para salvaguardar a globalização económica e o ambiente de comércio internacional, além de rejeitar, em conjunto, “ações unilaterais e de bullying”. A Comissão Europeia confirmou posteriormente que Bruxelas e Pequim organizarão uma cimeira na China, em julho.
Sánchez destacou que quer continuar a desenvolver “uma agenda positiva” com o gigante asiático. “Não podemos deixar que as tensões comerciais atrapalhem o potencial crescimento da relação entre a China e a Espanha, e entre a China e a UE”, ressaltou o chefe de Governo de Madrid, que evitou aumentar a tensão com os EUA, afirmando que “a política externa de Espanha não é contra ninguém”.