O caso envolve a concessão de obras públicas em troca de comissões. A Oposição pede eleições antecipadas.
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Pedro Sánchez enfrenta a pior crise desde que chegou ao Governo em 2018, por um escândalo de corrupção que envolve o ex-secretário da organização do PSOE e o ex-ministro dos Transportes.
Tudo se precipitou na semana passada, com a divulgação de um relatório da Unidade Central Operativa (UCO) da Guardia Civil, que implicava o ex-ministro dos Transportes, José Luis Ábalos, o seu assessor, Koldo García, e o secretário da organização do PSOE, Santos Cerdán, numa rede de corrupção que envolve o pagamento de comissões pela concessão de contratos e obras públicas.
A investigação a Ábalos e García durava há mais de um ano e apontava para a compra de máscaras durante a pandemia, com contratos milionários a empresas em troca de comissões. Os dois foram acusados de tráfico de influências, fraude, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. Ainda assim, Sánchez tinha conseguido blindar o Governo e o partido, já que Ábalos não tinha qualquer cargo desde 2021, tendo sido afastado do PSOE assim que se conheceu a investigação.
Tudo se complicou com o nome de Cerdán, número três do PSOE. Há muito que os rumores existiam, mas ninguém no partido acreditava que pudessem ser verdadeiros. No entanto, o relatório inclui a transcrição de conversas onde Cerdán fala de pagamentos feitos por empresas, discrimina quanto ainda falta receber e distribui o dinheiro entre os três políticos.
O conteúdo é de tal forma explícito que Sánchez pediu de imediato a demissão de Cerdán. “São indícios muito graves. Pedi a sua demissão e peço desculpa aos eleitores. Não devíamos ter confiado nele”, disse. O cargo de Cerdán faz ainda suspeitar que parte do dinheiro possa ter financiado de forma ilegal o PSOE, o que deixaria o partido ainda mais debilitado. Sánchez anunciou uma auditoria externa e entregou a direção do PSOE a uma equipa de transição até ao comité federal de julho e, até lá, não se descartam mais medidas, dependendo do alcance do caso.
Em choque
Koldo García passou anos a gravar conversas com políticos e empresários. A Guardia Civil ainda não analisou todo o material apreendido e todos temem o que possa ser revelado. O envolvimento de Cerdán, por quem muitos punham a mão no fogo, deixou o partido e o Governo em estado de choque. Da fé cega passou-se à paranoia e, hoje, ninguém é capaz de garantir que não haja mais envolvidos.
A Oposição pede eleições antecipadas e dentro do partido são cada vez mais as vozes que contestam Sánchez. Sobretudo porque o relatório da UCO põe em causa as primárias que ganhou em 2017. Numa das mensagens transcritas, Cerdán diz a Koldo que meta “dois votos na urna sem ninguém ver”. A mensagem diz respeito a Navarra, território que Sánchez perdeu para Eduardo Madina nessas eleições – que ganhou por 16 mil votos – mas é suficiente para manchar o percurso do primeiro-ministro, que afirma desconhecer “todas essas manobras”.
Sánchez quer levar a legislatura até ao fim e tem-se reunido com os seus parceiros de coligação para garantir a estabilidade necessária. Mas a situação é difícil. Se, por um lado, nenhum quer ir às urnas, também não estão dispostos a votar uma moção de confiança, que daria oxigénio a Sánchez, mas ligava-os ao seu destino.
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Buscas na sede do PSOE
A UCO entrou esta sexta-feira na sede do PSOE e no Ministério dos Transportes para clonar o email de Cerdán e Ábalos. Foi também pedida informação a 30 entidades financeiras de nove países sobre contas associadas aos investigados.
Primeiros depoimentos
Koldo García e José Luis Ábalos vão prestar declaração esta segunda-feira no Supremo Tribunal. Cerdán está convocado para dia 25, mas o seu advogado pediu adiamento.