Fabricados e enviados diretamente do Irão para a Rússia, os drones Shahed 136 têm sido frequentemente usados pelo exército de Moscovo para executar ataques violentos a várias cidades ucranianas. O mais recente ocorreu nesta segunda-feira, em Kiev. Segundo o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, as Forças Armadas russas possuem atualmente cerca de 300 unidades de drones de combate fornecidos por Teerão e já terão encomendado muitos mais.
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Também conhecidos como kamikaze, os drones Shahed 136 têm sido regularmente usados pela Rússia devido à sua eficácia no teatro de operações. De acordo com a Ucrânia, o país invasor já terá lançado um total de 86 drones iranianos, mas alega que 60% foram destruídos ainda no ar.
Drones-suicidas
Desenvolvidos pela empresa HESA desde 2021, os dispositivos aéreos não tripulados são controlados remotamente e, ao contrário dos drones militares tradicionais, que voltam à origem depois de lançar os mísseis, destroem-se no momento do ataque - por isso são também denominados de drones-suicidas.
Uma das maiores potencialidades desta arma - uma das mais usadas nas últimas semanas pelo exército de Vladimir Putin - é o facto de ter capacidade para sobrevoar uma zona identificada sem atacar precipitadamente, explodindo apenas quando é detetado um alvo.
Utilizados para ataques direcionados, os drones Shahed 136 têm uma carga útil de cerca de 50 quilos, uma envergadura de 2,5 metros entre as asas, podem atingir 185 km/h e têm um alcance de 2500 quilómetros, caraterizando-se por serem pequenos, portáteis e de difícil deteção, dificultando o reconhecimento prévio por parte do inimigo.
A questão que se coloca é: sendo a Rússia um dos maiores produtores de armas do Mundo, por que razão precisa de recorrer ao Irão para abastecer o seu vasto arsenal? "O uso destes drones é uma medida de redução de custos para a Rússia, porque permite economizar valiosos mísseis de cruzeiro, que custam milhões de euros", explica o investigador francês Pierre Grasser, do Centro Sirice, em Paris, à AFP.
Além disso, até encomendar drones iranianos, a Rússia não contava com drones com as caraterísticas do Shahed 136, possuindo apenas modelos com um alcance máximo de 40 quilómetros. De acordo com Vikram Mittal, professor da Academia Militar dos EUA, em West Point, a necessidade de comprar estas armas é "um reconhecimento do fracasso russo", já que o país não tem conseguido acompanhar os avanços tecnológicos que permitem a produção de meios aéreos não tripulados tão desenvolvidos, o que terá tendência a piorar devido às sanções ocidentais, sublinha o especialista norte-americano à AFP.
A juntar às perdas que o regime russo tem sofrido ao longo dos quase oito meses de conflito, o impedimento de comprar componentes eletrónicos ao Ocidente faz com que a Rússia recorra exclusivamente "a países como o Irão e a Coreia do Norte" para abastecer o exército com drones, munições e rockets, lembrou o vice-diretor dos serviços de informação dos EUA, Morgan Muir, citado pelo jornal "The Washington Post".
Ataques com drones iranianos podem piorar
A primeira vez que a Ucrânia conseguiu abater um desses drones terá sido no passado mês de setembro, em Kupyansk, Kharkiv, mas a partir daí os ataques foram-se multiplicando, esperando-se que possam piorar brevemente.
Na semana passada, de acordo com o Governo de Kiev, o Kremlin terá encomendado mais de 2400 drones que deverão integrar a frota russa gradualmente, o que aumenta os temores dos ucranianos, depois de os veículos aéreos já terem abatido vários carros de combate e causado destruição em infraestruturas civis.
O país liderado por Volodymyr Zelensky enviou uma carta ao Congresso dos EUA a pedir uma maior agilidade nas entregas de sistemas Phalanx, usados como defesa contra mísseis, artilharia e que também serve para travar pequenos drones.
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Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, assegurou que o fornecimento iria seguir para o leste da Europa o mais rapidamente possível, porém, enquanto isso não acontece, a ofensiva com recurso a drones iranianos cresce de dia para dia.
Apesar de na semana passada, Vladimir Putin ter afirmado que não havia "necessidade de um grande ataque" na Ucrânia, esta segunda-feira, Kiev voltou a acordar com várias explosões que, segundo a autarquia da capital, deveram-se a "ataques de drones kamikaze", provocando um incêndio num edifício não residencial e danos em vários apartamentos.
"Nas últimas 13 horas, o exército ucraniano abateu 37 drones Shahed 136 iranianos e três mísseis cruzeiro lançados pelos terroristas russos", escreveu o Ministério da Defesa ucraniano no Twitter, após Volodymyr Zelensky voltar a reafirmar: "O inimigo pode atacar as nossas cidades, mas não nos fará ceder", reagiu no Telegram.
Já na segunda-feira passada, um dia particularmente violento na Ucrânia, depois do ataque à ponte de Kerch, que liga a Rússia à Crimeira, Moscovo terá utilizado 83 mísseis e 17 drones de fabrico iraniano nos bombardeamentos realizados contra várias cidades ucranianas, indica um relatório da vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maliar.
O lançamento dos mísseis contra Kiev, Lviv, Pryluky, Khmelnytskyi, Dnipro, Nizhyn, Jitomyr e Kharkiv terão sido realizados a partir do Mar Cáspio e das regiões de Nizhni Novgorod, cidade localizada no oeste da Rússia.
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A utilização de drones iranianos, confirmada pelo Pentágono, foi também comprovada através da divulgação de imagens de vários meios de comunicação, nas quais surgem destroços que, aparentemente, são de meios aéreos não tripulados provenientes de Teerão. Devido às alegações, a Rússia estará a ser mais cuidadosa nas operações, procedendo à camuflagem dos drones para que pareçam russos.
No entanto, não é só através do envio de drones que o Irão deverá aumentar a sua participação no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Segundo informações de EUA, tornadas públicas pelo jornal "The Washington Post", Teerão comprometeu-se ainda a enviar para o aliado mísseis terra-terra, que deverão ser usados em ataques contra cidades e posições militares inimigas.
Irão nega, mas UE mantém-se atenta
Ainda assim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iranianos, Nasser Kanaani, negou, esta segunda-feira, o envolvimento do país na guerra na Ucrânia. "As notícias sobre o Irão fornecer drones à Rússia têm ambições políticas e são divulgadas por fontes ocidentais. Não fornecemos armamento para nenhum lado dos países em guerra", esclareceu, de forma sucinta, o responsável durante uma conferência de imprensa, cita a agência Reuters.
A mesma ideia já tinha sido expressa na última sexta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Hossein Amir-Abdollahian, ao homólogo português, João Gomes Cravinho. "A República Islâmica do Irão não deu e não irá dar nenhuma arma para ser usada na Ucrânia", disse o governante de Teerão ao político português, de acordo com um comunicado.
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Por sua vez, os Estados-membros da União Europeia (UE) têm-se mostrado preocupados com o crescimento de ataques com recurso a drones iranianos. Após as explosões desta segunda-feira na capital ucraniana, alguns países pediram a célere aplicação de sanções ao Irão.
"Drones iranianos são usados aparentemente para atacar o centro de Kiev. Isto é uma atrocidade", destacou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Jeppe Kofod, frisando que a UE deverá aplicar "medidas concretas" em resposta aos ataques, o que poderá passar por proibições de viagens e congelamento de bens a iranianos próximos do Governo, que estiveram ainda envolvidos na repressão contra manifestantes, no seguimento da morte de Mahsa Amini.
Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, assegurou, à chegada a uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros no Luxemburgo, que o bloco comunitário irá "procurar evidências concretas sobre a participação do Irão na guerra da Ucrânia" e dar uma resposta em conformidade.