Shein abre primeira loja física em Paris e Governo anuncia suspensão da plataforma

Diretor da loja de departamentos Bazar de l'Hotel de Ville (BHV), Karl-Stephane Cottendin, corta a fita na inauguração da primeira loja física da Shein
Foto: Dimitar Dilkoff / Pool / EPA
No mesmo dia em que a gigante do comércio Shein abriu a primeira loja física do Mundo, em Paris, o Governo francês anunciou esta quarta-feira que vai suspender a plataforma digital. A decisão ocorre após denúncias de que o site e empresas concorrentes estavam a vender bonecas sexuais e distribuírem conteúdo pornográfico sem censura a menores.
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A Shein inaugurou a sua primeira loja física no mundo em Paris, na quarta-feira, no meio de uma forte presença policial, enquanto a controvérsia girava em torno do modelo de negócio de fast fashion da empresa asiática do comércio eletrónico e da venda online de bonecas sexuais com aspeto infantil.
Os polícias de choque foram mobilizados no centro da capital francesa antes da abertura da primeira loja física permanente da Shein, no sexto andar da loja de departamentos BHV, um edifício icónico que se encontra em frente à Câmara Municipal de Paris desde 1856. Os primeiros clientes entraram na loja sob o olhar atento das forças de segurança por volta do meio-dia, depois de horas na fila no exterior.

Clientes no primeiro dia da loja física da gigante do comércio Shein (Foto: Dimitar Dilkoff / AFP)
Na fila antes da inauguração, uns disseram que vieram por curiosidade, enquanto outros apontavam para os preços acessíveis da marca. "Os tempos mudaram, as gerações mudaram", disse à agência France-Presse (AFP) Mohamed Joullanar, de 30 anos, que já faz compras online na Shein. "Nunca tinha pensado ir à BHV", disse a estudante marroquina de mestrado à AFP. "Sempre ouvi dizer que era caro, com produtos de luxo. Mas agora, graças à Shein, estou aqui."
Os ativistas pelos direitos das crianças realizaram um protesto nas proximidades. "Protejam as crianças, não a Shein", lia-se numa das placas. Os manifestantes distribuíram panfletos vermelhos, denunciando "suspeita de trabalho forçado" e "poluição", e incentivando os peões a assinarem uma petição contra a presença da Shein no interior da loja parisiense.
Do outro lado da rua, um cartaz que criticava a marca estava pendurado no topo da Câmara Municipal, debaixo da janela do político do Partido Verde e candidato à presidência da Câmara de Paris, David Belliard. "Shein, não, obrigado", dizia o cartaz.

Manifestante com cartaz na inauguração de loja física da Shein (Foto: Teresa Suarez / EPA)
Primeiro-ministro diz que vai bloquear site
O primeiro-ministro gaulês, Sébastien Lecornu, anunciou na quarta-feira que as autoridades iriam iniciar o processo de "suspensão" da plataforma digital em França até que o gigante asiático do comércio eletrónico cumprisse a legislação francesa.
"Por instruções do primeiro-ministro, o Governo está a iniciar o procedimento de suspensão da Shein durante o tempo necessário para que a plataforma demonstre às autoridades públicas que todo o seu conteúdo está finalmente em conformidade com as nossas leis e regulamentos", afirmou o gabinete de Lecornu. "Uma análise inicial será realizada pelos ministros nas próximas 48 horas", acrescentou.
A Shein, fundada na China, tem enfrentado críticas pelas condições de trabalho nas suas fábricas e pelo impacto ambiental do seu modelo de negócio de moda ultrarrápida, e a sua chegada a França tem sido contestada por políticos, sindicatos e grandes marcas de moda.

Polícia esteve presente na inauguração marcada por protestos (Foto: Dimitar Dilkoff /AFP)
A poucos dias da inauguração prevista, surgiu uma nova controvérsia em relação à venda de bonecas sexuais com aspeto infantil na plataforma da Shein. A descoberta desencadeou uma nova onda de protestos políticos e a abertura de uma investigação judicial.
A procuradoria de Paris afirmou, antes do lançamento da loja, que tinha aberto investigações contra a Shein, bem como contra as concorrentes AliExpress, Temu e Wish, pela venda das bonecas sexuais. As investigações referem-se à distribuição de "mensagens violentas, pornográficas ou impróprias e acessíveis a menores", afirmou a acusação.
Uma foto publicada pelos meios de comunicação franceses mostrava uma das bonecas à venda na plataforma acompanhada de uma legenda explicitamente sexual. A boneca da foto media cerca de 80 centímetros de altura e segurava um ursinho de peluche.
Gigante do comércio considera ser uma "falha"
A Shein, fundada na China em 2012, mas atualmente com sede em Singapura, prometeu "cooperar plenamente" com as autoridades judiciais francesas e anunciou a proibição de todas as bonecas sexuais. O porta-voz da plataforma em França, Quentin Ruffat, atribuiu a venda das bonecas a "uma falha nos nossos processos e na governação".
Frédéric Merlin, diretor de 34 anos da empresa SGM, que opera a BHV, afirmou na terça-feira que considerou terminar a parceria com a Shein após a recente polémica, mas mudou de ideias. Disse estar confiante nos produtos da Shein que serão vendidos na sua loja de departamentos e denunciou uma "hipocrisia generalizada" em torno da empresa.

Uma ativista segura um cartaz com as palavras "desde a colonização até ao seu guarda-roupa" dentro da loja da Shein (Foto: Dimitar Dilkoff /AFP)
"A Shein tem 25 milhões de clientes em França", disse Merlin à BFMTV/RMC na quarta-feira. Merlin espera que a gigante asiática ajude a aumentar o fluxo de clientes na sua loja de departamentos.
A ascensão meteórica da Shein tem sido uma maldição para as empresas tradicionais de retalho de moda. Os críticos temem que a Shein prejudique ainda mais as lojas em França, algumas das quais já tiveram de despedir funcionários ou fechar portas. A Shein planeia também abrir cinco lojas noutras cidades francesas, incluindo Dijon, Grenoble e Reims.
