Sismo na Turquia: As "réplicas constantes" são um risco para as equipas de resgate
Paulo Leite, comandante do Grupo Operacional de Busca e Salvamento (GOBS), falou ao JN sobre como decorre o processo de resgate em situações como a que se viu, esta segunda-feira, na Turquia e na Síria, que foram atingidas por um sismo que matou mais de 3800 pessoas.
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Como se dá o processo de resgate de pessoas num sismo como o da Turquia?
Primeiro, são avaliadas as estruturas e retiradas as vítimas superficiais para depois de tentar resgatar as pessoas soterradas. Mas primeiro é preciso estabilizar tudo antes de mandar uma equipa cinotécnica para o cenário, para que não haja perigo para o cão, para o guia nem para a equipa de resgate. Depois de o cão detetar a vítima, entra uma equipa de resgate que começa a abrir caminho. Utilizam aparelhos para conseguirem encontrar a vítima e falar com ela. Depois de garantir todas as condições de segurança e acessibilidade resgata-se a vítima, tudo em alta segurança.
Qual é o papel dos cães no processo de resgate?
O cão é considerado a ferramenta mais rápida e eficaz nesta situação. Tudo começa pela avaliação da situação do terreno. O cão só entra aquando da autorização de um chefe de equipa. Soltamos o cão e guiamo-lo na área pretendida. Utilizamos quadrículas no prédio para ir descartando as zonas. Passamos o cão de deteção de pessoas vivas. Se o cão marcar, ou seja, ladrar, colocamo-lo na quadrícula seguinte. Na quadrícula onde o primeiro cão ladrou, metemos um cão de confirmação. Fazemos isso sucessivamente até descartar todas as zonas. Depois de retirar as pessoas vivas, trabalhamos com um cão de cadáveres. Se houver algum, marcamos, pois o cadáver não precisa ser retirado logo. O essencial é tirar os vivos o mais rápido possível.
Como é que os cães detetam pessoas nos escombros?
O cão sente o odor que é libertado pelo corpo da vítima. O cão ladra e, de seguida, vem a equipa de resgate com câmaras para ver a vítima. Há sensores de sons, em que fazem uma triangulação para perceber onde está a vítima.
Quais são os maiores riscos durante um resgate?
A cidade onde ocorreu o sismo parece ser normal, contudo, as estruturas desfizeram-se por completo. Os riscos para as equipas de resgate são as réplicas constantes. Temos de ser o mais rápidos possível. Contudo não nos podemos esquecer do bem estar operacional, quer físico como emocional, que tem de ser salvaguardado. Para isso, temos equipas multidisciplinares para avaliar a situação. Em relação a meios técnicos, temos de ter todos os equipamentos necessários para todo o tipo de situação.
Quanto tempo aguenta uma pessoa nos escombros?
Isso depende. Podem aguentar dias. Depende da situação em que estiverem. Já vimos milagres.
O GOBS vai participar nos resgates na Turquia?
Estamos em contacto com as equipas no terreno e essa situação será avaliada conforme o desenvolvimento da catástrofe.