O portal noticioso China Digital Times, crítico do regime de Pequim, andou pelas redes sociais chinesas a fazer o levantamento das reações sobre a visita da líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos a Taiwan e observou, entre a ira mais extremista e o sarcasmo mais moderado, toda a disparidade e opiniões da "vox pop" digital.
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Vigiadas e censuradas quando criticam o regime, as redes sociais chinesas andaram entre o rancor antiamericano e crítica mordaz à visita de Nancy Pelosi. Num vídeo, publicado na plataforma Weibo, semelhante ao Twitter, um homem atira com cadeiras enquanto profere palavrões, enfurecido porque o Governo chinês não impediu que o avião de Pelosi aterrasse em Taipé.
Num outro vídeo, publicado no Douyin, versão chinesa do Tik Tok, um homem chora enquanto fala de "humilhação" e defende que o exército chinês deveria ter abatido o avião da congressista norte-americana.
Estes são alguns dos "posts" recolhidos pelo China Digital Times para exemplificar a "desilusão" dos nacionalistas chineses, alguns dos quais até acreditariam que Pelosi poderia ser a desculpa para uma invasão militar de Taiwan.
Antes da visita, muitos cibernautas partilharam imagens de posters, populares durante a liderança de Mao Zedong, a apelar à "reunificação da pátria" e a etiqueta ("hashtag") sobre o comando do exército chinês na zona junto a Taiwan teve mais de mil milhões de visualizações.
Outros cibernautas responderam com sarcasmo, com alguns a discutirem que realizador e atores deveriam ser escolhidos para um filme sobre uma eventual invasão de Taiwan ou a compararem a tensão com a seleção chinesa de futebol: "Nem um remate à baliza".
A desilusão levou muitos a criticar nas redes sociais a resposta "fraca" do Governo chinês, obrigando vários meios de comunicação estatais a restringir ou mesmo impedir comentários a notícias sobre a ilha.
Um dos alvos foi o Gabinete de Trabalho para Taiwan do Comité Central do Partido Comunista Chinês, com alguns cibernautas a exigirem a abolição deste órgão e a punição dos seus membros como "traidores".
O grande número de publicações e comentários fez mesmo com que muitos utilizadores do Weibo tivessem dificuldade em aceder à aplicação, lê-se numa nota publicada na quarta-feira por Wang Yaqiu, da Human Rights Watch.
A investigadora sénior da organização de defesa dos direitos humanos defendeu que "o volume de ódio sugere um aumento do ultranacionalismo nos últimos anos", em parte devido à "incessante propaganda estatal".
A censura a temas sensíveis, incluindo disputas territoriais e tensões étnicas, fez com que "muito do que permanece 'online' seja uma cacofonia de raiva e ódio", lamentou Wang. "Pequim agora está a provar o fruto amargo da sua própria opressão", acrescentou.
Nancy Pelosi visitou Taiwan na quarta-feira, tornando-se a mais importante responsável norte-americana a deslocar-se à ilha em 25 anos.
A visita causou indignação junto do Governo chinês, que respondeu com sanções económicas a Taiwan, além da realização de exercícios militares com fogo real em seis zonas marítimas perto da ilha.
Pequim reclama a soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província separatista desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas.