É uma das atrizes mais famosas do Irão, mas não foi poupada pelas autoridades iranianas. Taraneh Alidoosti foi detida, no último fim de semana, e acusada de espalhar falsidades sobre os protestos que têm agitado o país desde setembro. Em causa estava uma mensagem publicada no Instagram a expressar a sua solidariedade para com um homem que foi recentemente executado, por crimes alegadamente cometidos durante as manifestações.
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Nascida a 12 de janeiro de 1984 em Teerão, é filha do treinador de futebol Hamid Alidoosti, que jogou pela seleção iraniana e foi o primeiro iraniano a jogar numa equipa estrangeira, e de Nadere Hakimelahi, escultora e professora de arte. O seu único irmão morreu precocemente num acidente durante uma festividade de Ano Novo.
Taraneh Alidoosti, fluente em inglês e alemão, começou a sua carreira de atriz aos 17 anos com o papel principal em "I'm Taraneh, 15". O filme fez com que fosse premiada com o Leopardo de Bronze de Melhor Atriz, no Festival Internacional de Cinema de Locarno, em 2002, e com o Crystal Simorgh para Melhor Atriz, no 20.º Festival Internacional de Cinema Fajr, no Irão, tornando-se a pessoa mais jovem a receber o prémio. Mais tarde, estabeleceu um novo recorde, sendo indicada três vezes seguidas para a melhor atriz no Festival Internacional de Cinema Fajr pelos seus três primeiros filmes.
Casada e mãe de uma menina desde 2013, é mais conhecida pelo seu papel no filme "The Salesman", que estreou em competição no Festival de Cinema de Cannes de 2016 e que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A cerimónia dos Oscars foi marcada, porém, pelo boicote da estrela do filme em protesto contra a ordem "racista" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que bloqueou a entrada de cidadãos do Irão e seis outros países de maioria muçulmana em 2017. Recentemente, participou na obra de Saeed Roustayi "Os Irmãos de Leila", exibida no Festival de Cinema de Cannes deste ano.
A sua voz crítica levantou-se novamente na eclosão dos protestos no Irão, tendo condenado as tentativas do governo iraniano de reprimir a agitação nacional, desencadeada pela morte em setembro de Mahsa Amini sob custódia policial. A atriz prometeu permanecer no país e fazer uma pausa na carreira para apoiar as famílias dos manifestantes mortos pelas forças de segurança.
Em novembro, chamou a atenção após publicar uma fotografia sem lenço na cabeça e com um papel onde se lia, em curdo, "Jin. Jiyan. Azadi" ("Mulher. Vida. Liberdade."). Já este mês, a atriz voltou a usar o Instagram para expressar a sua solidariedade para com Mohsen Shekari, que foi executado aos 23 anos por crimes alegadamente cometidos durante os protestos no Irão. "O seu nome era Mohsen Shekari. Cada organização internacional que assiste a este derramamento de sangue e não age é uma vergonha para a Humanidade", escreveu. Uma semana depois, foi detida pelas autoridades iranianas e acusada de espalhar falsidades.
Centenas de nomes da indústria cinematográfica internacional pediram a libertação da atriz, numa carta aberta assinada por cerca de 500 trabalhadores e personalidades, entre os quais os atores Emma Thompson, Penélope Cruz, Kate Winslet, Ian McKellen e os realizadores Ken Loach, Pedro Almodóvar e Mike Leigh. Também o Festival de Cannes condenou "vigorosamente" a detenção de Taraneh Alidoosti e o realizador de cinema iraniano Asghar Farhadi pediu a sua libertação.
O movimento de protesto causado pela morte de Amini tornou-se um dos mais sérios desafios ao regime iraniano desde que chegou ao poder, durante a revolução de 1979. As autoridades já executaram dois homens considerados culpados de "moharebeh" - traduzido como "inimizade contra Deus". Segundo a lei iraniana, o crime é definido como "criar insegurança pública" ao ameaçar vidas ou propriedades com uma arma.
Segundo a organização não governamental Human Rights Activists in Iran, mais de 500 manifestantes morreram e 18 mil foram presos pelas autoridades iranianas.