Telegram muda estratégia e faz parceria com grupo para monitorizar conteúdo de abuso sexual infantil
Depois de vários anos sob a reputação de ser uma plataforma usada para comercializar material de abuso sexual infantil, o Telegram concordou pela primeira vez em fazer uma parceria com um grupo de vigilância internacional para combater a partilha desse tipo de conteúdo.
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A Internet Watch Foundation (IWF), sediada no Reino Unido, que mantém um banco de dados de imagens de abuso conhecidas e fornece ferramentas para plataformas de tecnologia sinalizarem e removerem automaticamente esses ficheiros, anunciou uma parceria com o Telegram na terça-feira.
“Ao juntar-se à IWF, o Telegram pode começar a implementar as nossas ferramentas líderes mundiais para ajudar a garantir que esse material não possa ser partilhado no serviço”, disse Derek Ray-Hill, CEO interino da IWF, de acordo com a BBC.
A partir de agora, a IWF poderá monitorizar o Telegram em busca de correspondências exatas de material de abuso sexual infantil nos seus bancos de dados e bloqueá-lo automaticamente. Ferramentas semelhantes também bloquearão hiperligações para sites conhecidos por hospedar esse tipo de conteúdo e identificarão imagens de abuso criadas por inteligência artificial.
O Telegram, sediado no Dubai e utilizado por 950 milhões de pessoas em todo o Mundo, tinha uma reputação única por ser abertamente hostil à moderação e às ordens judiciais para fornecer informações sobre utilizadores suspeitos de crimes ou a seguir ordens de remoção de conteúdo.
Embora o Telegram alegue que remove canais que hospedam material de abuso sexual infantil diariamente, os três maiores grupos que trabalham internacionalmente com autoridades policiais e plataformas de tecnologia — a IWF, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas dos EUA e o Centro Canadiano de Proteção à Criança — disseram à "NBC News" que foi o único a recusar-se durante anos a responder às suas tentativas de sinalizar e remover imagens de abuso sexual infantil.
Fundador detido em França
O fundador e presidente executivo do Telegram, Pavel Durov, de 40 anos, foi detido, a 24 de agosto no aeroporto de Le Bourget, nos arredores de Paris, depois de ter chegado a bordo de um jato privado e interrogado nos dias seguintes. Após quatro dias de detenção, foi acusado de não ter conseguido conter conteúdo extremista e ilegal no Telegram. Foi-lhe concedida liberdade condicional sob fiança de cinco milhões de euros e com a condição de se apresentar numa esquadra de polícia duas vezes por semana, além de permanecer em França.
Figura que raramente fala em público, Durov é cidadão da Rússia, França e Emirados Árabes Unidos. A revista "Forbes" estima a sua fortuna atual em 15,5 mil milhões de dólares (equivalente a 14 mil milhões de euros).
Depois da detenção de Durov, o Telegram anunciou que vai passar a ceder endereços IP e números de telefone dos utilizadores sempre que haja pedidos judiciais válidos. Além disso, a plataforma já tem uma equipa de moderadores que está a moldar a inteligência artificial para esconder conteúdos problemáticos dos resultados das buscas.