Há um mês que a morte, destruição e fome pairam na Ucrânia, de onde já fugiram 3,6 milhões de pessoas. Analistas ouvidos pelo JN concordam que final da guerra pode demorar anos a acontecer.
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A incursão russa, que de acordo com o Kremlin tem o objetivo de "desmilitarizar" e "desnazificar" a Ucrânia, tem-se intensificado dia após dia e originou a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra. Mulheres e crianças fogem ao som dos bombardeamentos, sendo que pelo menos 3,6 milhões já procuraram segurança fora do país. Para trás ficam os homens - que ao abrigo da lei marcial devem permanecer no país - cidades devastadas, corpos abandonados e um cenário que dificilmente será recuperado.
Embora as negociações entre os dois países se mantenham, ambos os lados admitem que o fim do conflito será difícil de alcançar: a Rússia tem levado as exigências ao mais alto nível e a Ucrânia insiste em manter a integridade territorial. A resistência de Kiev interceta os desejos de Moscovo, e um consenso poderá demorar anos a ser alcançado. A conclusão é unânime entre os analistas ouvidos pelo JN.
Chave de ouro: China
"A partir do momento em que a guerra se fixou em torno das cidades, tenderá a alargar-se no tempo", reflete o Major-General Arnaut Moreira, acrescentando que só "uma alteração de natureza política no interior de um dos contendores precipita o fim da guerra". Já Diana Soller, investigadora do IPRI-NOVA, refere que um desfecho diplomático não estará próximo, a não ser que a Rússia faça algumas cedências que "apenas podem ser impulsionadas por grandes atores, como é o caso da China", afirma, colocando a potência asiática, que se diz imparcial, como uma das chaves para arrematar a guerra. Sem fazer nenhuma previsão, Nuno Pinheiro Torres, professor de Direito Internacional da Universidade Católica do Porto (UCP), alerta que "quanto mais tempo durar o conflito maior será a dificuldade da Rússia em sustentar o esforço de guerra"
Arnaut Moreira, que já atuou como Intelligence Officer no Quartel-general da NATO, acredita que este esforço tem sido intensificado uma vez que "o ímpeto das operações iniciais indicia que o planeamento de forças alocado à invasão foi inadequado", o que poderá estar a justificar uma conduta mais agressiva por parte dos russos, que passa por ataques a escolas, hospitais e zonas residenciais Também o especialista da UCP analisa que "a estratégia da Rússia foi concebida a pensar num conflito de curta duração", convicção que Diana Soller refere apenas ter sido observada nos primeiros dias.
Até agora, segundo dados da ONU, pelo menos 950 civis morreram na sequência de ataques das forças russas, número do qual fazem parte mais de 100 crianças. A devastação humana que se vive na Ucrânia tem preocupado a comunidade internacional que age através de apelos, sanções e ameaças - que até agora apenas têm conseguido isolar o regime de Vladimir Putin do Mundo.
Apesar do término do conflito ainda não ser evidente, ao fim de um mês já é possível estabelecer algumas certezas. A mais firme é a de que a Europa não será mais a mesma a nível de segurança e defesa.
Uma Europa desigual
Pinheiro Torres dá conta de que esses sinais já são visíveis, uma vez que alguns dos maiores estados europeus têm aumentado as despesas militares, apontando o caso da Alemanha. Ainda assim, Diana Soller descarta a criação de um exército europeu, defendendo que a confiança militar deverá ser mantida na NATO que "vai ganhar uma nova importância e será fortalecida devido ao aparecimento de um inimigo comum". Arnaut Moreira é mais cauteloso e sugere que as preocupações com segurança e defesa estarão "dependentes do desfecho deste conflito".
A prioridade passa agora por trazer a paz de volta a Europa, mas, segundo Pinheiro Torres, isto só acontecerá diante de um destes três cenários: um acordo de paz, a queda de Kiev ou o fim de Putin - hipótese em que menos acredita, pelo menos nos próximos tempos.
Momentos marcantes
Russos invadem a Ucrânia a 24 de fevreiro
As tropas de Moscovo invadiram a Ucrânia na madrugada do dia 24 de fevereiro, numa ofensiva que Vladimir Putin, presidente da Rússia, intitulou de "operação militar especial". O ataque ao país vizinho aconteceu depois do Kremlin ter acumulado militares junto à fronteira com a Ucrânia.
Ocidente aplica sanções
Logo que o conflito começou, vários países aplicaram sanções económicas a oligarcas próximos de Putin. Com o escalar dos confrontos, a União Europeia foi adotando novas medidas para castigar o regime russo, esperando que, a médio e longo prazo, a economia de Moscovo se fragilize e isole perante o Mundo.
Cidades destruídas, civis mortos e pessoas à fome
O ataque russo rapidamente se estendeu a várias cidades ucranianas, o que obrigou a população a fugir de casa devido aos bombardeamentos. Mariupol é a cidade mais sacrificada onde milhares de pessoas ficaram sem comida, água e medicamentos. Estima-se que perto de mil civis já tenham morrido em ataques.
Ameaça nuclear
Dois dias após invadir a Ucrânia, Putin alertou que tem armamento nuclear disponível a ser usado, se alguém ousar utilizar meios para tentar impedir a invasão russa da Ucrânia. Esta semana, o Kremlin reafirmou a ideia.