Trabalhadores de "call center" espanhol continuaram a atender chamadas ao lado de colega morta
Operadores de uma empresa que presta serviços à Iberdrola continuaram a atender chamadas durante mais de duas horas após o óbito de uma colega no escritório, enquanto o corpo não era removido do local. Caso decorreu na última terça-feira em Madrid.
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De acordo com o jornal "El País", Inma, uma mulher de 57 anos, morreu por volta das 13 horas da última terça-feira, apesar das tentativas de salvamento das equipas de emergência que se tinham deslocado até ao local.
Duas horas mais tarde, o delegado da Prevenção de Riscos Ocupacionais da Confederação Geral do Trabalho espanhola (CGT), Miguel Ángel Salinas, chegou ao local e deparou-se com polícias a rodear o corpo, enquanto quatro colaboradores ainda atendiam chamadas normalmente.
O jornal espanhol relata que, segundo testemunhas, houve operadores de telemarketing que ficaram chocados e abandonaram o seu posto. Porém, houve ainda quem questionou se poderia ir para casa, mas que foi obrigado a continuar pois ter-lhes-á sido dito que o serviço que prestam é “essencial”. Fontes sindicais reconhecem que se trata de um setor onde falta um "tratamento digno".
Inma trabalhava há cerca de dez anos na Konecta, uma multinacional espanhola com diversos "call centers" em Madrid, e que atendem a empresa de energia elétrica Iberdrola. Os operadores que trabalhavam junto de Inma, numa sala com quase 70 estações de trabalho, atendem chamadas sobre falhas técnicas.
As causas pelas quais Inma teve o ataque cardíaco não foram divulgadas. Segundo o mesmo jornal, se Inma sofria de problemas de stress, seria impossível para a empresa inteirar-se, uma vez que os exames médicos que a Konecta realiza aos funcionários enfatizam os riscos físicos da profissão de operador de telemarketing, como a coluna, a audição ou a garganta. Não há exames médicos que determinem o estado da saúde mental dos colaboradores.
Até hoje, a empresa ainda não respondeu às tentativas de contacto do jornal "El País". Goyi Pérez, responsável pela comunicação do grupo Konecta, visitou o local na última quarta-feira, e assegurou que o caso será reconhecido como acidente de trabalho, com as devidas implicações para efeitos de indemnização. Pérez ainda comentou que na antiga mesa de Inma, os companheiros de trabalho erigiram uma singela homenagem, com fotos, flores e uma mensagem: "Adeus, Inma".