Casas, estradas e praças ficaram inundadas após tempestade violenta atingir centro de Itália. Catástrofe causou pelo menos 10 mortos e fez emergir discussão antiga.
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De forma inesperada, um fenómeno descrito como "bomba de água" atingiu a região de Marche, no centro de Itália, na madrugada desta sexta-feira, o que levou várias localidades nas províncias de Ancona e Pesaro-Urbino a ficarem submersas. Segundo as autoridades italianas, pelo menos 10 pessoas morreram e quatro estão desaparecidas, entre elas duas crianças de oito e dez anos. A tragédia está a chocar Itália e fez emergir um debate que não é novo: as alterações climáticas.
As autoridades locais mostraram-se surpreendidas com o fenómeno, já que nos últimos dias não conseguiram prever a queda de 400 milímetros de chuva em apenas duas horas - fluxo normalmente registado em seis meses, nesta zona do país. A rapidez com que as casas, estradas e praças ficaram debaixo de água levou as equipas de bombeiros a proceder a resgates com recurso a botes.
O acontecimento trágico ocorreu a uma semana das eleições legislativas em Itália e trouxe ao de cima a importância de se aplicarem medidas capazes de combater as alterações climáticas - uma vez que, de acordo com vários meteorologistas italianos, fenómenos deste tipo passarão a ser frequentes nos próximos anos. "Precisamos de nos habituar, mas, sobretudo, de nos adaptar", alertou Paola Pina D"Astore, especialista em Geologia, à AFP.
Ao JN, Leornardo Marotta, professor de Ecologia na Università luav di Venezia, explicou que "o efeito cumulativo das ações humanas leva a um conjunto de fenómenos, como o excesso de seca seguido de cheias, com danos reais. As mudanças climáticas que provocam chuvas e secas cada vez mais intensas aumentam a criticidade dos fenómenos", acautelou.
Ajuda de cinco milhões
Mario Draghi, primeiro-ministro demissionário de Itália, frisou que o episódio que assolou o centro de Itália "mostra a forma como a luta contra as mudanças climáticas é fundamental" e lamentou o ocorrido, anunciando um pacote de emergência de cinco milhões de euros para ajudar as vítimas nas "necessidades básicas", cita o jornal italiano "La Repubblica".
"Quero expressar as profundas condolências e demonstrar proximidade às famílias das vítimas e dos feridos", destacou o líder.
Também o Papa Francisco se mostrou preocupado com a tragédia e lembrou que "o estado de degradação da nossa Casa Comum [Planeta Terra] merece a mesma atenção que outros desafios globais, como as crises sanitárias e os conflitos bélicos", escreveu o chefe da Igreja Católica no Twitter, comparando o sucedido com a pandemia de covid-19 e a guerra que decorre no Leste da Europa.
Com os especialistas a estimarem que estes fenómenos se multipliquem, várias associações apelam a uma maior mobilização governamental, sobretudo porque as eleições estão próximas.
"O que vamos fazer com as nossas vidas enquanto o Estado italiano não faz nada para reduzir as emissões e evitar dezenas de milhares de mortes semelhantes nos próximos anos?" lamentou Michele Giuli, ativista do movimento Última Geração.
Na sequência do episódio, o Partido Democrático italiano anunciou, nas redes sociais, que iria suspender a campanha para as eleições de 25 de setembro, mas apenas na região atingida.