O truculento primeiro-ministro britânico Boris Johnson acumulou polémicas e casos em Downing Street. Parecia ter tantas vidas como um gato, mas os primeiros dias do verão trouxeram uma degradação acelerada da imagem, que o levou à demissão em poucos dias.
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Pincher não foi o primeiro caso, mas apenas a gota que fez transbordar o copo da indignação. Das festas durante o confinamento, ao "beliscador" de Londres e a um lobista de bolsos fundos, três casos agravados por uma crise inflacionária, deixaram Johnson na porta de saída de Downing Street.
O "beliscador" Chris Pincher
A 29 de junho, Chris Pincher foi a um clube privado em Londres. "Bebi muito mais do que devia e causei embaraço a mim próprio", disse o deputado conservador. Uma fleumática formulação britânica de admissão das acusações que resultaram daquela noite com bebida em excesso e talvez pudor em défice: Pincher, que traduzido para português significa "beliscador", terá apalpado dois homens, incluindo um deputado.
Foi a segunda vez que Pincher, deputado eleito pelo círculo de Tamworth em 2010, foi obrigado a abandonar um cargo por causa de alegações de caráter sexual. Em 2017, foi acusado de ter feito avanços a um antigo remador olímpico, o ativista Alex Story, que na altura tinha 26 anos, embora um inquérito o tenha ilibado.
Confrontado com novo caso, que trouxe à tona as alegações anteriores, Johnson disse que não estava a par de "alegações específicas" sobre o comportamento de Pincher antes de o nomear vice-presidente da bancada "Torie", em fevereiro.
A 4 de julho, a BBC noticiou que o primeiro-ministro tinha sido informado de uma queixa formal contra Pincher. No dia seguinte, um antigo funcionário da Coroa, Lord McDonald, disse que Boris tinha sido informado pessoalmente.
Encostado à parede pela verdade, Boris Johsnon admitiu que tinha sido informado em 2019 das alegações contra Pincher, quando este foi reintegrado pela ex-primeira-ministra Theresa May como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, quando Boris tomou posse em julho de 2019 como primeiro-ministro.
Pincher tornou-se no quinto deputado conservador envolvido num escândalo sexual desde abril e desencadeou uma onda de demissões no executivo que já ia em perto de 60 quando Boris percebeu onde terminava a caminhada.
O caso Owen Paterson
Em outubro de 2021, um comité da Casa dos Comuns recomendou uma suspensão de 30 dias de Owen Paterson, então deputado dos Conservadores.
Segundo o Comité, Paterson violou as leis do lóbi, tentando beneficiar empresas que lhe pagavam. Os Conservadores, liderados por Johnson, votaram uma pausa na suspensão, e avançaram com um inquérito à forma como decorreu o... inquérito.
As críticas recrudesceram e Owen Paterson demitiu-se. O primeiro-ministro admitiria o erro. "Acho que espatifei o carro nesta". Não foi a última vez, nem a primeira.
Partygate - as festas "traz a tua bebida"
Em abril Boris Johnson foi multado por violar as regras do confinamento obrigatório, para festejar o aniversário, em junho de 2020, juntamente com funcionários e colaboradores políticos próximos. Na ocasião pediu desculpa por ter participado nas festas organizadas em Downing Street durante o primeiro confinamento, que ficaram conhecidas como encontros "traz a tua bebida".
Na sequência dessas festas, a Polícia Metropolitana de Londres emitiu 126 multas para 83 pessoas, por violação das regras do confinamento em Downing Street e Whitehall. O caso levou a uma investigação, a cargo de Sue Gray, que descreveu uma série e de eventos socais com participação de adidos políticos na quebra das regras do confinamento.
O caso foi investigado pela funcionária pública Sue Gray, que descreveu uma série de eventos sociais dos adidos políticos durante o confinamento, considerando que deviam ser responsabilizadas as lideranças, tanto politica como governativa, recorda a BBC.
Boris admitiu no parlamento que "Downing Street acompanhou" os eventos e agora está a ser investigado por suspeitas de ter enganado o Parlamento.
Subida de impostos durante "pior aumento do custo de vida"
A crise da energia e a guerra na Ucrânia, que agravou a mesma crise, e fez subir os preços da generalidade dos produtos, especialmente na alimentação. Não é culpa de Boris, ou de Costa ou Macron, é de Putin, mas ajudou a acelerar a degradação da imagem do primeiro-ministro britânico.
Apesar de ter tomado algumas medidas para tentar mitigar o aumento do preço dos combustíveis, Boris Johnson aumentou o imposto das prestações sociais. O Governo disse que o aumento da taxa ia pagar a subida dos custos com a saúde e apoios sociais prometeu algumas alterações, que suavizaram o aumento - ainda assim, qualquer trabalhador com um ordenado superior a 34 mil libras por ano (cerca de 40 mil euros) vai pagar mais impostos, contas feitas pela BBC.
"No meio do pior aumento do custo de vida em décadas, o Governo escolhe aumentar os impostos dos trabalhadores", criticou o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer.