Cerca de 13 mil médicos e especialistas que estudam o novo coronavírus juntaram-se a um movimento anti-confinamento, por defenderem que isolamento está a ter um impacto irreparável na saúde das pessoas.
Corpo do artigo
A Declaração Great Barrington, que começou nos Estados Unidos da América, conta já com mais de 130 mil assinaturas (o número continua a crescer a bom ritmo), cerca de 13 mil das quais pertencem a médicos e cientistas. Os subscritores defendem que manter o confinamento em vigor até que uma vacina esteja disponível "causará danos irreparáveis, com os mais desfavorecidos a serem desproporcionadamente prejudicados."
12896877
"Viemos tanto da esquerda como da direita, e de todo o mundo, e temos dedicado as nossas carreiras à proteção das pessoas. As atuais políticas de confinamento estão a produzir efeitos devastadores na saúde pública a curto e longo prazo", expõe a declaração, também disponível em português.
Entre os "efeitos devastadores na saúde", os autores da declaração apontam a diminuição da taxa de vacinação infantil e o pior atendimento a pessoas com doenças cardíacas e cancro. Além disso, sublinhando que o risco da doença é muito maior para os idosos, afirmam que, para as crianças, "a covid-19 é menos perigosa do que muitos outras doenças, incluindo a gripe".
Minimizar danos até chegar à imunidade de grupo
Partindo da ideia de que "todas as populações acabarão por atingir a imunidade de grupo (o ponto em que a taxa de novas infeções é estável)", a declaração defende uma lógica de minimização dos riscos, em que a vida continua a funcionar normalmente. "O nosso objetivo deve ser, portanto, minimizar a mortalidade e os danos sociais até atingirmos a imunidade de grupo", explica. E como fazê-lo? Segundo estes especialistas, os lares, por exemplo, "devem utilizar pessoal com imunidade adquirida" e realizar testes regulares aos outros funcionários e aos visitantes. Os idosos que vivam sozinhos devem, por seu turno, pedir a entrega de alimentos e bens essenciais em suas casas e encontrar-se com a família em espaço exterior.
As pessoas que não são vulneráveis "devem ser imediatamente autorizadas a retomar a vida normal", embora seja recomendado o cumprimento de "medidas simples de higiene", como lavar as mãos e ficar em casa perante sinal de doença.
Declaração tem "falhas éticas, científicas e logísticas"
A abordagem está a ser criticada por vários membros da comunidade científica, por poder dificultar a proteção total de pessoas vulneráveis e por não prever eventuais complicações do vírus a longo prazo, que colocariam em risco outros grupos aparentemente não vulneráveis. Embora "bem intencionada", a declaração tem "falhas éticas, científicas e logísticas", considerou Stephen Griffin, professor na Universidade de Leeds, no Reino Unido, em declarações à BBC.