As autoridades turcas resgataram hoje no Mediterrâneo os tripulantes de um barco da Flotilha Global Sumund, que se dirigia para Gaza juntamente com dezenas de outras embarcações, após este comunicar a entrada de água.
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O navio, que se encontrava numa zona próxima de Chipre, do Egito e da ilha grega de Creta, pediu ajuda ao longo da manhã, tendo o comandante notificado que o motor estava com falhas e que havia uma brecha no casco, por onde estava a entrar água no compartimento.
A própria flotilha indicou num comunicado divulgado na rede social Instagram que a operação de resgate foi um êxito e que decorreu "de forma tranquila", graças à coordenação com o Governo da Turquia e o Crescente Vermelho turco.
Agradeceu, por isso, ao Governo turco, que desempenhou "um papel fundamental na garantia da retirada segura dos participantes" na viagem para entregar ajuda humanitária na Faixa de Gaza, ao mesmo tempo esclarecendo que estava previsto que o navio, "Johnny M", chegasse ao seu destino em cerca de quatro dias.
"O navio "Johnny M" tinha uma fuga na casa das máquinas. A situação não podia ser resolvida no mar, pelo que o barco parou, dada a impossibilidade de continuar. Todos os tripulantes foram retirados em segurança", referiu o texto.
"Isto não vai causar grandes atrasos na nossa missão, que deverá chegar a Gaza dentro de quatro dias", salientou a Flotilha Global Sumund.
Semih Fener, capitão do navio "Alma", também da Flotilha e que colaborou no processo de retirada dos tripulantes, descartou "um naufrágio" e reafirmou tratar-se de "um problema técnico", segundo informações recolhidas pela agência de notícias Anatolia.
"Recolhemos 12 pessoas e transferimo-las para outros navios. Quatro vão regressar a casa", indicou.
Para tal, referiu, serão transportadas para território turco, de onde partirão posteriormente.
"Estão gratas pelo processo de evacuação" do navio, acrescentou.
A Flotilha Global Sumud está na sua etapa final em direção à Faixa de Gaza para desafiar o bloqueio israelita ao enclave palestiniano e entregar alimentos e medicamentos, com um total de 43 embarcações, e planeia entrar numa "zona de alto risco" no Mediterrâneo Oriental nos próximos dois dias.
O Governo italiano enviou dois navios militares para auxiliar os navios da flotilha, se necessário, revezando-se, mas não em simultâneo, e a Espanha enviou outro, o navio de patrulha oceânica "Furor".
A guerra declarada por Israel a 7 de outubro de 2023 em Gaza para "erradicar" o movimento islamita palestiniano Hamas - horas após um ataque a território israelita com cerca de 1200 mortos e 251 reféns - fez, até agora, pelo menos 66.055 mortos, na maioria civis, e 168.346 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros e também espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de mantimentos, distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis famintos, tendo até agora matado 2571 e ferido pelo menos 18.817.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.