Em concordância com Guterres, o major-general Arnaut Moreira acredita que estão reunidas todas as condições para o prolongamento da ofensiva.
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Ao 76º dia de conflito, a esperança de um cessar-fogo decresce. Após os EUA alertarem que a guerra se deverá prolongar, António Guterres, secretário-geral da ONU, mostrou-se em linha com Washington, afirmando que o fim da ofensiva não irá acontecer no imediato. A opinião é partilhada pelo major-general Arnaut Moreira ao defender que o conflito se encontra "num impasse".
De visita a Viena, Guterres destacou que "não há perspetivas de um cessar-fogo ou negociações de paz", ideia com a qual Arnaut Moreira, que atuou como Intelligence Officer da NATO, "concorda totalmente", salientando que "esta guerra tem tudo para se tornar num conflito longo".
Para o major-general, "há dois ingredientes que fazem com a guerra se possa estender". Por um lado, "nenhum dos países está à beira do colapso militar", tendo conseguido manter uma estratégia de terreno auxiliada por equipamentos de primeira geração. A outra condição relaciona-se com uma "estabilização e uma certa incapacidade de coordenar os desequilíbrios necessários para alterar o seguimento do conflito".
Além disso, ao fim de mais de dois meses, tanto Kiev como Moscovo ainda têm cartas na manga. "A Ucrânia irá continuar a receber equipamento dos EUA e da Europa e tem esperança de iniciar uma contra-ofensiva dentro de poucas semanas", explica Arnalt Moreira, que depreende que também a Rússia está em boas condições de continuar a ofensiva no Donbass, sobretudo se resolver "fazer uma mobilização das reservas".
Zelensky perde paciência
Em relação a uma extensão da guerra até à Transnístria, na Moldávia, o major-general acredita que nesta altura "será difícil empreender esforços em duas frentes de batalha, já que os russos estão a dar tudo no Donbass", antecipando que os ataques nesta zona não deverão passar de "incidentes no sentido de fixar forças", até porque essa movimentação seria "imprudente" sem antes ser conquistada uma vitória no leste da Ucrânia.
A especulação sobre uma escalada do conflito foi um assunto trazido à tona por Sergei Lavrov, chefe da diplomacia russa, que reiterou que Moscovo "não quer uma guerra na Europa", culpando o Ocidente por pretender "derrotar a Rússia"
Apesar de a paz ainda estar longe, Guterres mantém-se confiante e garante: "nunca vou desistir" de levar as negociações a bom porto. Já Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, mostra-se menos esperançoso na via do diálogo à medida que vão surgindo mais provas de crimes de guerra. "A cada nova atrocidade, desaparecem oportunidades de negociação", salientou, numa altura em que o exército do Kremlin continua a atacar Azovstal, onde milhares de combatentes ucranianos permanecem, negando uma rendição.