Doze meses depois do assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, nenhum dos 11 suspeitos foi condenado e apenas se sabe que o jornalista foi morto no interior do edifício.
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A 2 de outubro de 2018, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, que morava nos Estados Unidos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, para tratar de alguns documentos necessários para o casamento com uma cidadã turca.
O jornalista não voltou a sair do consulado, onde foi morto por agentes sauditas, que saíram da Turquia e regressaram à Arábia Saudita logo após o assassínio.
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O seu desaparecimento será assinalado na quarta-feira num ato diante dessa representação diplomática convocado por um grupo de amigos e apoiantes às 13.14 horas locais (11.14 horas em Portugal continental), a mesma hora do dia em que Khashoggi entrou no consulado saudita.
Além de Hatice Cengiz, noiva de Jamal Khashoggi, também participará no ato a relatora da ONU sobre execuções arbitrárias, Agnes Callamard, o político egípcio exilado Ayman Nour e o Prémio Nobel do Iémen, Tawakkol Karman, entre outros ativistas, assim como representantes das organizações não-governamentais Repórteres Sem Fronteiras, Human Rights Watch e Amnistia Internacional.
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Salah Khashoggi, filho do jornalista, disse esta terça-feira num "tweet" que tem "total confiança" no sistema judicial saudita e mostrou-se contra aqueles que procuram, segundo ele, explorar este caso.
"Um ano passou-se desde a morte do meu amado pai. Durante esse tempo, opositores e inimigos no Ocidente e no Oriente procuraram explorar o caso (...) para prejudicar o meu país e os seu líderes", escreveu.
"Tenho plena confiança no sistema judicial do reino e na sua capacidade de fazer justiça (e punir) aqueles que estão por trás deste crime hediondo", acrescentou Salah Khashoggi.
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Na segunda-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que o seu país continuará os esforços para esclarecer o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi.
Num artigo publicado no jornal "Washington Post", Erdogan descreveu o assassínio do jornalista, morto por um grupo de agentes sauditas, como "provavelmente, o mais controverso e determinante incidente do século XXI".
Erdogan disse que a Turquia vai continuar a questionar "onde estão os restos mortais de Khashoggi, quem assinou a sentença de morte do jornalista saudita e quem enviou os 15 assassinos em dois aviões para Istambul".
Para tentar limpar a sua imagem, fortemente afetada pelo caso, o reino saudita acusou 11 suspeitos, mas a morte de Khashoggi envolveu 15 agentes sauditas e a CIA e a ONU puseram em causa o envolvimento direto do príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman.
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Numa entrevista ao programa norte-americano 60 Minutos emitido no domingo, o príncipe afirmou que assume "plena responsabilidade" pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do regime, mas negou ter ordenado o homicídio.
"Este foi um crime hediondo. Mas assumo plena responsabilidade como líder na Arábia Saudita, especialmente porque foi cometido por indivíduos que trabalham para o Governo saudita", disse Mohammed bin Salman, em entrevista ao programa norte-americano "60 minutos" no domingo.
O príncipe herdeiro respondeu com um "não" categórico à questão sobre se tinha ordenado o assassínio de Khashoggi, e apontou que o homicídio do influente jornalista no exílio tinha sido "um erro".
O julgamento dos 11 suspeitos começou no início de janeiro, na Arábia Saudita, e o procurador-geral solicitou a pena de morte para cinco deles, mas até hoje, ninguém foi condenado.
Em junho, a ONU publicou um relatório que responsabiliza diretamente o príncipe bin Salman e pediu mais sanções internacionais contra a monarquia saudita e a continuação das investigações sob os auspícios do organismo internacional.
"Alguns pensam que eu devia saber o que três milhões de pessoas que trabalham para o Governo saudita fazem diariamente", afirmou o príncipe herdeiro, durante a entrevista ao programa "60 minutos".