Felipe VI assume, esta quinta-feira, o trono e tem pela frente a árdua responsabilidade de fazer subir a popularidade da monarquia de Espanha e ajudar as forças políticas a encontrar respostas à crise política e social espanhola.
Corpo do artigo
A tarefa de Felipe VI, que será hoje proclamado Rei de Espanha, não se avizinha fácil: tem nas mãos a responsabilidade de assegurar a continuação da monarquia parlamentar, numa altura em que o próprio sistema político espanhol, nascido na Transição, vive momentos de crise. Recuperar o prestígio da instituição monárquica será, assim, o principal desafio do novo Rei que, desde que nasceu, há 46 anos, se tem vindo a preparar para assumir a coroa espanhola.
Felipe VI representa a "nova geração" em que D. Juan Carlos de Borbón depositou as esperanças de renovação quando anunciou que abdicava do trono, no início deste mês. Mas o 21.° rei em 500 anos da monarquia de Espanha, que será o mais jovem monarca europeu, terá que enfrentar também o aumento da reprovação social em relação à instituição, sobretudo junto das camadas mais jovens da população, que não votaram no referendo que ratificou a Constituição de 1978.
Depois de décadas praticamente sem sofrer contestação na sociedade espanhola, a monarquia tem vindo a ser cada vez mais criticada, aliás como mostram as mais recentes sondagens, cujos números expressam atualmente um grau de apoio historicamente baixo.
Com um estilo sóbrio, bastante diferente do de Juan Carlos (que muitos espanhóis apreciavam pelo carácter "bonacheirão"), Felipe conseguiu manter-se relativamente afastado das polémicas que envolveram recentemente a família real, como a corrupção em torno ao Instituto Nóos, que levou a irmã, a infanta Cristina, a ser constituída arguida, juntamente com o marido, Iñaki Urdangarin.
Atualmente o elemento mais respeitado da Casa Real espanhola (juntamente com a rainha Sofia), Felipe sobe ao trono num momento em que à crise económica se junta também o maior conflito territorial da democracia espanhola, motivada pelo desafio independentista na Catalunha, que coloca em causa a manutenção da unidade do próprio Estado espanhol.
Por outro lado, a quebra da hegemonia política dos dois grandes partidos espanhóis, PP e PSOE, que têm sustentado a monarquia nas últimas décadas (e que nas últimas eleições europeias não conseguiram, juntos, alcançar os 50% dos votos) e o crescimento de formações políticas, como Esquerda Unida e Podemos, favoráveis à república, auguram um futuro incerto para Felipe VI.
*em Madrid