Doze mortos num "ataque terrorista" contra comunidade judaica em praia da Austrália

Foto: Saeed Khan/AFP
Doze pessoas morreram, este domingo, num ataque a tiro na praia de Bondi, em Sidney. A polícia australiana anunciou que, entre as vítimas mortais, está um dos atiradores, que foi abatido. O outro suspeito foi detido e está ferido, em estado crítico.
Em conferência de imprensa, o primeiro-ministro de Nova Gales do Sul, Chris Minns, confirmou que o ataque teve como alvo a comunidade judaica. "Este ato cobarde de violência aterradora é chocante e doloroso de se ver e representa alguns dos nossos piores temores sobre o terrorismo em Sidney. Este ataque foi planeado para atingir a comunidade judaica de Sidney. No primeiro dia de Hanukkah, o que deveria ter sido uma noite de paz e alegria, celebrada pela comunidade com famílias e amigos, foi destruído por este ataque cruel e horripilante", disse Minns.
Segundo a emissora britânica BBC, estava a decorrer na praia de Bondi um evento para marcar o primeiro dia da celebração judaica Hanukkah, também conhecida como festa das luzes. Segundo o cartaz do evento, estava marcado para as 17 horas locais (6 horas) e iria decorrer até às 21 horas locais (10 horas) junto de um parque infantil. A entrada era gratuita e havia mais de mil pessoas no evento.
À "ABC News", um alto funcionário da polícia confirmou que um dos atiradores foi identificado como sendo Narveed Akram, de Bonnyrigg, no sudoeste de Sidney. O comissário Mal Lanyon afirmou que um dos suspeitos "era pouco conhecido pela polícia, pelo que não é alguém que estaríamos a investigar neste momento". "Estávamos cientes da pessoa, mas isso não significa que representasse qualquer ameaça específica", explicou.
O tiroteio foi classificado como um incidente terrorista e as autoridades estão a investigar se há um terceiro autor.
this is fucking appalling. this is bondi beach. this is modern australia. pic.twitter.com/nfD7Z2Xz34
- vrsaljak (@vrsaljak) December 14, 2025
O serviço de ambulâncias de Nova Gales do Sul foi acionado cerca das 18.45 horas locais (7.45 horas em Portugal continental) e pelo menos 29 pessoas, entre as quais uma criança, foram transportadas para hospitais locais. Um porta-voz do serviço de ambulâncias não soube informar a natureza dos ferimentos ou o estado de saúde das vítimas. Dois polícias também terão ficado feridos, embora não se saiba com que gravidade. entre as vítimas, pelo menos, um cidadão israelita.
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A polícia localizou "diversos objetos suspeitos" na área que estão a ser examinados por agentes especializados, nomeadamente um potencial objeto explosivo debaixo da ponte onde os atiradores foram filmados a disparar. As autoridades encontraram também explosivos no carro ligado ao suspeito abatido.
Um turista britânico disse à AFP que viu "dois atiradores vestidos de preto e armados com espingardas semiautomáticas".
"Ouvimos os tiros. Foi chocante, parecia que foram 10 minutos de só tiros, tiros e mais tiros. Parecia uma arma poderosa", afirmou, por sua vez, Camilo Diaz, um estudante chileno de 25 anos, à AFP.

Outra testemunha, Harry Wilson, um morador de 30 anos, disse ao jornal australiano "Sydney Morning Herald" que viu "pelo menos 10 pessoas no chão e sangue por toda a parte".
Lachlan Moran, 32 anos, de Melbourne, estava à espera da família nas proximidades quando ouviu tiros, disse à agência "Associated Press". "Ouvi alguns estalos, entrei em pânico e fugi. Comecei a correr. Tive essa intuição. Corri o mais rápido que pude", disse Moran, que ouviu tiros intermitentes durante cerca de cinco minutos. "Todos largaram os seus pertences e tudo o que tinham e começaram a correr, as pessoas choravam, foi horrível", acrescentou.
"As cenas em Bondi são chocantes e angustiantes. A polícia e as equipas de emergência estão no local a trabalhar para salvar vidas. Os meus pensamentos estão com todas as pessoas afetadas. Acabei de falar com o Comissário da Polícia Federal Australiana (AFP) e com o primeiro-ministro de Nova Gales do Sul. Estamos a trabalhar em conjunto com a Polícia de Nova Gales do Sul e forneceremos mais atualizações assim que novas informações forem confirmadas. Peço às pessoas nas proximidades que sigam as informações da Polícia de Nova Gales do Sul", lê-se num comunicado do primeiro-ministro australiano Anthony Albanese.

"Estou horrorizado com as notícias de Bondi. O primeiro-ministro está a ser informado diretamente por todas as agências de segurança. Todos os australianos solidarizam-se com as vítimas e opõem-se a este ato de violência abominável", escreveu o ministro do Interior, Tony Burke, na plataforma X (antigo Twitter).
I"m horrified by the news from Bondi.
- Tony Burke (@Tony_Burke) December 14, 2025
The Prime Minister is being briefed directly by all security agencies.
All Australians stand together with the victims and against this appalling act of violence
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Penny Wong, classificou o tiroteio em Bondi como "abominável" e enviou condolências às famílias das vítimas do ataque: "O terrorismo, o antissemitismo, a violência e o ódio não têm lugar na Austrália. Os meus mais profundos sentimentos a todos que perderam entes queridos esta noite. Desejamos a plena recuperação de todos os feridos e solidarizamos-nos com a comunidade judaica australiana. Agradecemos aos serviços de emergência e aos australianos comuns que demonstraram coragem diante de tanto terror".
A praia de Bondi, na zona leste de Sidney, é a praia mais famosa da Austrália, atraindo um grande número de surfistas, nadadores e turistas, especialmente aos fins de semana.
"Totalmente previsível"
O presidente da Associação Judaica da Austrália afirmou que o tiroteio é uma "tragédia, mas totalmente previsível". "O governo Albanese foi avisado inúmeras vezes, mas não tomou as medidas adequadas para proteger a comunidade judaica", disse Robert Gregory à AFP.
Por sua vez, o presidente israelita Isaac Herzog considerou o tiroteio um "ataque cruel contra judeus" e instando as autoridades australianas a intensificarem a luta contra o antissemitismo. "Neste exato momento, os nossos irmãos e irmãs em Sidney, na Austrália, foram atacados por terroristas vis num ataque cruel contra judeus", disse Herzog num evento em Jerusalém, onde pediu à Austrália que "lute contra a enorme onda de antissemitismo que assola a sociedade australiana".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que ficou "chocada" com o tiroteio mortal na icónica praia de Bondi, que a principal diplomata do bloco condenou como um "ato de violência terrível" contra a comunidade judaica. "A Europa está ao lado da Austrália e das comunidades judaicas em todo o mundo. Estamos unidos contra a violência, o antissemitismo e o ódio", escreveu von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no X.
Shocked by the tragic attack at Bondi Beach.
- Ursula von der Leyen (@vonderleyen) December 14, 2025
I send my heartfelt condolences to the families and loved ones of the victims.
Europe stands with Australia and Jewish communities everywhere.
We are united against violence, antisemitism and hatred.
"Este ato de violência abominável contra a comunidade judaica deve ser condenado inequivocamente", acrescentou Kaja Kallas, chefe da diplomacia da UE.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também reagiu ao ataque. "Fiquei horrorizada ao ver as imagens do terrível ataque a tantas pessoas na praia de Bondi, no início das celebrações do Hanukkah", indicou na sua conta no X. "Todos os meus pensamentos estão com as vítimas e com a comunidade judaica em geral na Austrália e além".
Absolutely horrified to see the images emerging of the appalling attack on so many people on Bondi Beach as Hannukah celebrations began in Sydney.
- Roberta Metsola (@EP_President) December 14, 2025
All my thoughts are with the victims and the wider Jewish community in Australia and beyond.
This light will not be extinguished
Por precaução, o evento de Hanukkah em Melbourne foi cancelado.
Mortes em tiroteios em massa são extremamente raras na Austrália. O ataque deste domingo é o tiroteio mais letal na Austrália desde o atentado em Port Arthur, em 1996, ano em que 35 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas quando um atirador abriu fogo num local histórico na Tasmânia. O ataque foi um ponto de viragem, levando o governo a introduzir algumas das medidas de controlo de armas mais rigorosas do Mundo. Houve um programa de recompra de armas, intensificou-se a fiscalização dos proprietários e os ataques diminuíram drasticamente.
Por outro lado, segundo o jornal britânico "The Guardian", a Austrália tem sofrido uma série de ataques antissemitas contra sinagogas, edifícios e carros desde o início da guerra de Israel em Gaza em outubro de 2023. Alguns eventos importantes incluem grafitis na maior escola judaica da Austrália, em Melbourne, em 25 de maio de 2024; grafitis antissemitas pintados numa padaria judaica em Sidney, com um bilhete para o proprietário a dizer "tome cuidado", em 13 de outubro; e o incêndio, a 17 de outubro numa porta da cervejaria Curly Lewis Brewing Company, em Bondi.

