Filas com tempo de espera mais curtos no segundo dia do velório de Francisco.
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Costuma dizer-se que há sempre um português em todo o lado e acabamos por tropeçar neles por mero acaso. Numa das ruas ali perto do Vaticano, ouve-se um sotaque luso pintalgado por terras transmontanas. É Lúcia de Sá, natural de Macedo de Cavaleiros e a viver em França há mais de trinta anos. Está na peregrinação anual do grupo português de Sainte-Marie de Batignolles, parte de uma paróquia francesa no 17.º bairro de Paris. “Até já fomos a Israel”, explica-nos uma peregrina. São 29, mais um padre indonésio que os acompanha e arranha um português com sotaque brasileiro.
“Este ano não podia deixar de ser em Itália, porque estamos no ano do jubileu. Por muita sorte ou pouca sorte, calhamos nesta data em que o Papa Francisco faleceu. Já não o vimos vivo, mas tivemos a oportunidade de o ter visto no seu caixão”, explica-nos, enquanto nos fala das muitas atividades do grupo, incluindo catequese, rancho folclórico e celebração do São Martinho.
Pouco tempo de espera
O grupo português teve mais sorte do que muitos por estes dias. Em pouco mais de duas horas, conseguiu entrar, permanecer algum tempo dentro da basílica junto ao caixão do Papa Francisco e sair: “Foi passar e fazer um sinal de respeito. Muitos de nós com a lágrima no olho, porque foi um momento muito, muito comovente e não estávamos à espera, sinceramente, não estávamos à espera de poder entrar.”
“Tínhamos a esperança de nos cruzarmos com ele vivo, mesmo se fosse na cadeira de rodas. Mas ele estava a sofrer, Deus quis levá-lo, a gente aceita isso”. E socorre-se do francês para a expressão lhe sair forte: “c'est vraiment très très très chaleureux”, uma forma de mostrar a emoção que sentiu.
A conversa decorreu ali mesmo ao fundo da Via della Conciliazione, antes de um momento de descanso para reagrupar, já que alguns tinham ficado para trás, para contemplar uma vez mais a Praça de São Pedro. Nesta altura, nota-se a circulação de mais pessoas, não apenas no ponto central do Vaticano, mas também nas redondezas, e já com os preparativos para sábado muito adiantados. Ecrãs gigantes ocupam agora um espaço central na praça e ruas limítrofes e por todas a cidade há fitas amarelas e cartazes colocados junto às lojas, a explicar que o trânsito e o estacionamento estarão condicionados para as cerimónias fúnebres. Para além da missa no Vaticano, há o desafio logístico da procissão fúnebre.