Um "verão africano" poderá eclodir a qualquer momento, inspirado na "primavera árabe", disse o presidente da Aliança Global para a Melhoria da Alimentação, o sul-africano Jay Naidoo, ex-ministro do governo Mandela.
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A expressão usada pelo político sul-africano é inspirada pela "primavera árabe", movimento pela democratização iniciado, este ano, no norte da África e que conduziu à queda dos regimes líbio, egípcio e tunisino. No Iémen e Síria a contestação popular tem sido alvo de violenta repressão.
Quarta-feira, no Brasil, dirigindo-se a uma plateia de empresários e autoridades brasileiras, Jay Naidoo afirmou que os africanos estão "cansados" da corrupção e das condições em que vivem e que os líderes do continente serão responsabilizados "cedo ou tarde".
O responsável considera os empresários brasileiros "os parceiros mais progressistas em África" e convocou-os a colaborar para o desenvolvimento dos países africanos, sobretudo agindo com transparência nos negócios firmados com as autoridades locais.
"Não é do interesse de vocês não ter transparência", disse o político, que alertou que as empresas que não seguirem esse caminho poderão "dar-se mal".
O o presidente da Aliança Global para a Melhoria da Alimentação (GAIN, na sigla em inglês) referiu que os impostos sonegados por empresas na África "superam toda a ajuda" que chega ao continente. As perdas chegam a 160 mil milhões de dólares anuais.
Jay Naidoo considerou que, para garantir o futuro dos investimentos na África, é preciso "garantir o futuro do seu povo". Para o político, "não dá para desenvolver negócios sem o desenvolvimento social".
A ocupação de terras africanas por estrangeiros não é, em princípio, um problema, desde que os investidores de fora contribuam para o desenvolvimento local, disse.
"Não vemos impedimento em as pessoas irem para lá para usar nossa terra, mas como isso vai ajudar a resolver nossos problemas?", questionou. O responsável lembrou que a África sempre foi importante fornecedora de produtos primários, mas os benefícios desse comércio não chegam à população.
As declarações do sul-africano foram feitas durante um evento promovido pelo Instituto Lula em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).