Doze municípios em França proibiram o uso do "burquíni" (fato-de-banho islâmico) nas suas praias.
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A Cannes, Villeneuve Loubet e Mandelieu juntaram-se Saint Jean Cap Ferrat, Beaulieu sur Mer, Eze, Villefranche e Cap d'Ail, o que eleva a oito as proibições na Côte d'Azur.
As motivações são semelhantes, segundo o "Nice Matin", e impedem o acesso à praia a quem não disponha de um traje "correto, que respeite os bons costumes, o princípio do laicismo e as regras de higiene".
Primeiro-ministro diz que aquela peça de vestuário "não é compatível" com os valores de França
No resto do país, também Sisco, na Córsega, Le Touquet e Oye Plage, no norte, e Leucate, no sudeste, adotaram a mesma proibição ou anunciaram a intenção de o fazer nos próximos dias.
Os autarcas a favor da proibição de uso do "burquíni" nas praias receberam, na quarta-feira, o apoio do primeiro-ministro francês, Manuel Valls, que numa entrevista ao diário "La Provence" considerou que aquela peça de vestuário "não é compatível" com os valores de França.
"As praias, como qualquer espaço público, têm de estar livres de qualquer reivindicação religiosa", defendeu o primeiro-ministro, para quem o "burquíni" "não é uma nova gama de fatos-de-banho, uma moda", mas "a tradução de um projeto político, de contra sociedade, principalmente assente na submissão da mulher".
As praias, como qualquer espaço público, têm de estar livres de qualquer reivindicação religiosa
O socialista Valls descartou a hipótese de legislar sobre o assunto e insistiu, em contrapartida, no cumprimento rigoroso das leis em vigor contra a "burca", que cobre todo o rosto das mulheres, e o "niqab", que só deixa ver os olhos, assim como proíbem a ostentação em escolas de ensino básico e secundário de qualquer símbolo religioso.
O partido conservador Os Republicanos, principal formação da oposição, e ao qual pertence boa parte dos municípios que vetaram o uso do "burquíni", não tomou posição pública enquanto tal contra a peça de vestuário, mas alguns dos seus representantes exigem ao executivo medidas específicas.
O 'burkini' é a versão do véu integral na praia. É uma publicidade ambulante ao Islão radical
Legislar "é o mínimo que [o Governo] deve fazer", disse a eurodeputada e candidata às primárias de Os Republicanos Nadine Morano, no diário "Le Figaro", onde acusa o executivo de frouxidão.
"O 'burquíni' é a versão do véu integral na praia. É uma publicidade ambulante ao Islão radical que os franceses já não suportam. Proponho que se endureça a lei", pediu Nadine Morano, que quer inclusive expulsar do território as mulheres reincidentes que não sejam de nacionalidade francesa.
O ex-primeiro-ministro conservador François Fillon limitou-se a apoiar na rede social Twitter aqueles que vetaram o "burquíni", ao passo que a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, se alinhou ao lado de Morano, afirmando que o fato-de-banho islâmico "deve ser proscrito das praias francesas".
"É uma questão de laicismo republicano, de ordem pública, certamente; mas, além disso, trata-se da essência de França: a França não aprisiona o corpo da mulher, não esconde metade da população sob o pretexto errado e odioso do medo de que a outra metade caia em tentação", concluiu.