O conselho militar no Egipto não cumpriu as promessas e certas violações dos direitos humanos cometidas desde que assumiu o poder são piores do que as do regime do antigo presidente Hosni Mubarak, denunciou a Amnistia Internacional, no dia em que os manifestantes voltam a encher a Praça Tahrir.
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Um relatório da Amnistia Internacional enumera uma lista "aflitiva" de violações dos direitos humanos cometidas sob o poder do Conselho Supremo das Forças Armadas, que lidera os destinos do Egipto desde a queda de Mubarak, a 11 de Fevereiro, na sequência da revolta popular.
O relatório é divulgado no dia para o qual os movimentos egípcios na origem da rebelião popular convocaram uma manifestação para contestar o poder militar, que na segunda-feira rejeitou a demissão do Governo, após três dias de confrontos mortíferos entre forças da ordem e manifestantes.
O último balanço do ministério da Saúde refere que os confrontos entre militantes e as forças da ordem provocaram já, pelo menos, 24 mortos entre os manifestantes.
A Coligação dos jovens da revolução e o Movimento 6 de Abril, entre outros grupos de intervenção política, apelaram no Facebook para uma concentração, esta terça-feira, pelas 16 horas locais (14 horas em Portugal Continental) na emblemática praça Tahrir, no Cairo.
Os diferentes grupos exigem a demissão do Governo de Essam Charaf, designado pelo conselho militar no poder, e a formação de um "governo de salvação nacional".
Os organizadores do protesto apelaram, ainda, à realização de eleições presidenciais o mais tardar em Abril de 2012 e à total reestruturação do ministério do Interior.
O Egipto está a uma semana das primeiras eleições legislativas desde a queda do regime de Mubarak.
Ainda segundo a Amnistia Internacional, no domínio da justiça, o poder militar "piorou" a situação, com 12 mil civis a serem julgados perante os tribunais militares nos últimos nove meses, nomeadamente por "violências menores" ou "insultos ao Exército".
A organização de defesa dos direitos humanos cita o caso de Maikel Nabil, fechado durante 45 dias num hospital psiquiátrico depois de ter encetado uma greve de fome para protestar contra a sua condenação a três anos de prisão.
Em vez de proteger os manifestantes, as forças da ordem, designadamente o Exército, "reprimiram violentamente, fazendo vários mortos e feridos", aponta a Amnistia Internacional, acusando o Conselho Supremo das Forças Armada de ter "asfixiado os objectivos e as aspirações da revolução de 25 de Janeiro".
A organização assinala a "repressão impiedosa" do conselho militar contra os que ousaram criticá-lo - manifestantes, jornalistas ou grevistas - e a promessa de supostos inquéritos independentes para afastar qualquer crítica, inclusive sobre a continuidade da prática de tortura nas prisões.