Primeira viatura será encaminhada para Bakhmut, em Donetsk, nas próximas semanas.
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Longe do inferno vivido diariamente na linha da frente, há uma equipa de voluntários que trabalha com afinco para tornar mais suportável a vida dos militares ucranianos. Nos próximos dias, a "sauna móvel" projetada por Stanislav Madens seguirá para a província de Donetsk, no Leste do país, para dar alento aos que lutam pelo país. Para aquecer-lhes não só o corpo, mas também a alma. Dar-lhes o conforto possível durante os difíceis combates.
Numa zona de armazéns junto ao Porto de Odessa, o homem de 30 anos avança pelas traseiras até à carrinha transformada numa "sala-de-banho" móvel. De sorriso rasgado, lança os dois braços com entusiasmo para a viatura estacionada à porta da oficina e solta uma interjeição de orgulho: "Surpresa! Aqui está ela". A carrinha branca, aparentemente normal, segura um reservatório com pequenos blocos de madeira na parte de trás.
À frente, o brasão ucraniano pintado com as cores do país está cravado na chapa para anunciar a missão. Stanislav sobe o degrau e vai descrevendo o espaço interior através de um inglês esforçado. Aponta os olhos ao teto, como que à procura das palavras, e apoia-se no tradutor do telemóvel para encontrar os termos esquecidos. A carrinha revestida em madeira tem cabides pregados numa das paredes, uma mesa com alguns bancos, dois chuveiros escondidos por uma cortina de banho e uma sauna ao fundo, para lá de uma porta. Foi tudo construído pela mão de voluntários e com fundos arrecadados através de campanhas nas redes sociais.
Para facilitar a comunicação, o amigo Vadym Herbanovskyi explica o propósito do projeto: "A ideia é chegar perto da linha da frente e dar oportunidade aos militares que lá estão de tomarem um banho quente e lavarem as suas coisas. Nos campos de batalha, eles não conseguem encontrar um lugar para se limparem num raio de alguns quilómetros porque 90% das casas estão destruídas". Responsável pela angariação das verbas que sustentam o projeto, Vadym conhece bem a realidade das trincheiras. É-lhe relatada quase todos os dias pelo melhor amigo que combate na fustigada cidade de Bakhmut. E é por ele que decidiu criar outra estrutura móvel, maior e com mais valências, que estará pronta dentro de três semanas.
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Segundo projeto em processso
Enquanto a carrinha branca está à espera de indicações para fazer-se à estrada, o gigante camião verde-tropa está a ser preparado na oficina ao lado. O som da máquina de soldar ecoa no interior e as ferramentas estão espalhadas pelo chão e mesas de apoio. O processo vai a meio. "Nesta casa-de-banho sobre rodas, a ideia principal é ter espaço para que os militares se possam despir e tomar banho.
Haverá gavetas deste lado, seis chuveiros com água quente apoiados por três mil litros de água e três máquinas na parede do fundo para lavar os uniformes", enumera Vadym. Imagina as peças a serem montadas e acredita que é o mínimo que pode fazer para ajudar o melhor amigo que, por estes dias, também combate um inimigo invisível: o frio.
"A possibilidade de tomar banho só surge, em alguns casos, algumas vezes por mês. Passam o dia todo na lama, em edifícios destruídos, no campo ou na floresta, esteja o clima que estiver. O uniforme está sempre sujo, às vezes com sangue. Não é apenas uma questão de saúde, mas também de estado mental".
O próximo passo é angariar fundos para construir uma terceira viatura de apoio. Longe da batalha, Vadym confessa que tem sido um ano difícil de gerir, mas recusa lamentar-se. "Não tenho a certeza se posso queixar-me por estar aqui, porque estamos em Odessa e este é um lugar seguro", aponta. Enche-se de orgulho para falar do melhor amigo e não tem dúvidas de que "é a pessoa certa" para estar na linha da frente. "Estou a tentar fazer o meu melhor para o manter vivo".