World Press Photo suspende atribuição de autoria à fotografia “A Menina do Napalm”
A World Press Photo suspendeu a autoria de "A Menina do Napalm", fotografia vencedora do prémio em 1973, após a estreia do documentário "The Stringer", de Bao Nguyen, que contesta a atribuição dessa imagem ao fotojornalista Nick Út.
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A decisão foi anunciada, esta sexta-feira, pela fundação World Press Photo, a par das conclusões da investigação suscitada pelo documentário, que apontam para a possibilidade de "os fotógrafos Nguyen Thanh Nghe ou Huynh Cong Phuc terem estado em melhor posição para tirar a fotografia, em vez de Nick Út".
"Assim sendo, suspendemos a atribuição de ‘O Terror da Guerra’ ['Menina do Napalm'] a Nick Út, a partir de hoje", afirma a fundação em comunicado.
"A Menina do Napalm", também conhecida por "O Terror da Guerra", uma das mais conhecidas fotografias da Guerra do Vietname, mostra uma menina vietnamita gravemente queimada a correr nua por uma estrada, após um ataque de napalm, na região de Trang Bang, no sul do país, em 1972.
A imagem deu ao fotógrafo vietnamita-americano da Associated Press (AP) Huynh Cong Ut, mais conhecido por Nick Ut, o Prémio Pulitzer e o World Press Photo em 1973.
No passado mês de janeiro, um documentário exibido no Festival de Cinema de Sundance, "The Stringer", atribuiu a foto a um jornalista "freelancer" vietnamita, Nguyen Thanh Nghe, que é entrevistado no filme.
"Não há provas para alterar o crédito"
A revelação levou a agência norte-americana AP a encetar igualmente uma investigação, que divulgou no passado dia 6 de maio, concluindo que "não há provas definitivas, pelos [seus] padrões, para alterar o crédito desta foto de 53 anos".
Segundo o relatório de 96 páginas divulgado pela AP, não é possível provar conclusivamente a autoria da imagem, devido à passagem do tempo, à ausência de provas importantes, às limitações da tecnologia e às mortes de várias pessoas envolvidas, ao longo das últimas cinco décadas.
Os resultados mantêm a possibilidade de Nick Ut ser de facto o autor da imagem, por não ter sido encontrada qualquer prova de que Nguyen a tenha feito.
O estudo da AP envolveu entrevistas, exame de câmaras, construção de um modelo 3D da situação e estudo de negativos sobreviventes desse dia 8 de junho de 1972, em que a imagem foi capturada.
"A fotografia em si permanece incontestável"
O relatório da World Press Photo, hoje divulgado, por seu lado, foi feito "com base na análise de localização, distância e câmara utilizada", e conclui que outros dois fotógrafos, os vietnamitas Nguyen Thanh Nghe e Huynh Cong Phuc, "podem ter estado em melhor posição para tirar a fotografia".
"O mais importante é que a fotografia em si permanece incontestável, e o prémio World Press Photo para esta foto de um momento importante na história do século XX continua a ser um facto, [...] apenas a autoria está suspensa e sob revisão", esclarece o comunicado.
A World Press Photo admite que a autoria continuará a ser contestada, e que o autor pode nunca vir a ser "totalmente confirmado", por isso a suspensão manter-se-á "válida até que se prove o contrário".
A diretora executiva da World Press Photo, citada no comunicado, esclarece que a fundação tem um processo para quando surgem alegações após a entrega dos prémios, e que as conclusões são tiradas a partir de factos e de acordo com os valores "de precisão, fiabilidade e diversidade" da fundação.
"A Menina do Napalm" contiua a ser "uma imagem incontestável de um momento da história com repercussões no Vietname, nos Estados Unidos e no mundo", conclui Joumana El Zein Khoury.
Kim Phuc Phan Thi, a menina no centro da imagem, tornou-se cidadã canadiana e continuou a testemunhar, ao longo da vida, o ataque das forças norte-americanas e o terror da guerra.